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Gertrude Jekyll artesã, jardineira e artista

Gertrude-Jekyll

Fotografia: D.R.

Gertrude Jekyll (1843-1932) criou mais de 400 jardins no Reino Unido, Europa e América, a sua influência no design de jardins sente-se um pouco por todo o mundo ainda nos dias de hoje. A maior parte de sua vida foi passada em Surrey, Inglaterra, e mais tarde em Munstead Wood, Godalming. No museu de Godalming estão presentes muitas das suas anotações e cópias de todos os desenhos da sua horta, (compiladas e ordenadas por membros do Surrey Gardens Trust), os desenhos originais estão na Universidade da Califórnia.

Os seus próprios livros sobre jardinagem são lidos em edições modernas, ela contribuiu com mais de 1.000 artigos para revistas como a Country Life, The Garden e outras. Uma talentosa pintora, fotógrafa, designer e artesã, ela foi muito influenciada pelos princípios do movimento Arts&Crafts, que retomou protagonismo nestes últimos anos.

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A família…

O seu irmão, Walter, era amigo do autor Robert Louis Stevenson, seu nome pode ter sevido de inspiração para o título do seu livro mais famoso, Dr. Jekyll e Mr. Hyde. O historiador da família, Sir Herbert Jekyll (1846-1932), era o irmão mais novo de Gertrude, engenheiro militar e funcionário público, um homem de grande talento em diversas áreas. Esteve diretamente ligado á  fundação do Coro Bach em Londres, ao estabelecimento de linhas de telégrafo em África, à conceção da rede rodoviária de Londres e no projeto do Pavilhão Britânico para a Exposição de Paris de 1900, em parceria com Sir Edwin Lutyens.

Abertura

Podemos seguir a linha da família de Jekyll da qual Gertrude Jekyll era descendente, por 13 gerações, o nome é, provavelmente, de origem dinamarquesa. William Jekyll (1470-1539) foi para Londres a partir de Lincolnshire, e tornou-se Provedor de forragem para o cavalo do rei. Ao longo dos anos, os membros da família foram advogados, clérigos, banqueiros, comerciantes, soldados, marinheiros e agentes da coroa britânica.

Um advogado ilustre, Sir Joseph Jekyll (1662-1738), Master of the Rolls, deixou em testamento todo o seu dinheiro para reduzir a dívida nacional do país. O sobrinho de Sir Joseph, John Jekyll, o tetravô de Gertrude, viveu nos Estados Unidos e foi Coletor das Alfândegas, em Boston, Massachussets de 1707 a 1732, executando o seu trabalho com competência e imparcialidade foi descrito como ‘Darling of all Fair Traders’ em Nova Inglaterra.

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O seu pai reformou-se bastante jovem como soldado das Grenadier Guards, com uma saúde bastante precária, o que o manteve por casa. Dele herdou o interesse pela música, ciências e artesanato. Gertrude passou muitas horas na sua oficina bem equipada, preparando modelos e realizando experiências.

Em 1861, aos 18 anos, Gertrude matriculou-se no South Kensington School of Art em Londres. Já era na altura uma talentosa pintora, também estudou botânica, anatomia, ótica e a ciência da cor na escola. Herdando a abordagem científica do seu pai, Gertrude abraçou essas disciplinas com entusiasmo e dedicação.

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A carreira…

Esta jovem vitoriana cresceu no século XIX, a sua personalidade incomum acabou por vingar mesmo tendo em conta as restrições normais da época, desenvolvendo assim a sua própria carreira.

A morte do seu pai em 1876 foi seguida por um retorno ás origens, a Surrey, o que consolidou as suas ambições na disciplina do design de jardins. A sua mãe construiu uma casa em Munstead Heath, perto de Godalming.

Após a criação do jardim da casa da sua mãe,  a sua competência em horticultura cresceu e começou a ganhar prémios e medalhas com as plantas que seleciona e cria. Além das suas habilidades práticas como um jardineira  começou também a contribuir com artigos para a publicação de William Robinson, The Garden em 1881,  tornando-se este no seu editor entre 1899 e 1901. Em simultâneo com o sucesso na concepção e plantio de jardins de amigos começou a ter um número cada vez maior de comissões externas.

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Em 1889, o seu encontro com um arquiteto de 20 anos, Edwin Lutyens estabeleceu um novo marco na sua vida.

As capacidades arquitetónicas de Edwin Lutyens complementavam exatamente a sua experiência em plantas e design de jardins. Unidos pelos princípios do Arts&Crafts, as suas capacidades individuais, aliadas à completa compreensão dos materiais e da sua utilização permitem formar uma parceria onde os inúmeros contactos de Jekyll trouxeram muitas encomendas.

A casa de Gertrude em Munstead Wood, na rua em frente à da sua mãe, foi um dos primeiros  resultados desta colaboração.

Sir Edwin Lutyens (1869-1944) foi um arquiteto Inglês de renome. O seu trabalho varia entre casas particulares, edifícios governamentais, escritórios, urbanismo e museus. Selecionado pela Comissão War Graves, ele também projetou e construiu memoriais, lápides e cemitérios, muito necessários após os combates da Primeira Guerra Mundial (1914-18). Ele foi igualmente hábil em exteriores e interiores, em trabalhos grandes e pequenos. A sua carreira teve a sua base em Inglaterra, mas, mais tarde teve um papel importante na criação de edifícios em todo o mundo.

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Gertrude teve uma forte influência sobre seu trabalho sobretudo numa fase inicial, apresentou-o à maioria dos seus primeiros clientes, ajudou-o a adquirir conhecimentos sobre o design de jardins que contribuiram para aumentar  sua criatividade na arquitetura.

O movimento Arts&Crafts, deve a sua origem a uma série de artistas, escritores, empresários e filósofos que reagiram à brutalidade do século XIX e à Revolução Industrial em Inglaterra. Os seus objetivos eram embelezar as coisas práticas, tais como casas ou móveis, enfatizando materiais naturais e artesanato individual. O respeito pelo meio ambiente antecipou muitas das características do movimento ambiental actual.

Este  movimento inspirou-se nos princípios do crítico de arte, reformador social e autor, John Ruskin, embora o homem que o tenha posto em prática tenha sido William Morris. Durou relativamente pouco tempo, mas influenciou o movimento francês da Art Nouveau e é considerado por diversos historiadores como uma das raízes do modernismo do design gráfico, desenho industrial e arquitetura.

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No trabalho de Gertrude Jekyl e do seu colaborador Edwin Lutyens, as casas eram construídas com materiais locais e concebidas em sintonia com suas configurações, enquanto os jardins mantinham a ligação com a paisagem circundante e cresciam em estreita ligação com a casa. Uma relação harmoniosa entre a casa e o ambiente era vital; cada planta deve ser estudada pela sua cultura,  folhagem  e cor para alcançar um efeito prático, bonito e adequado. O jardim deve revelar pontos de vista inesperados e surpresas pictóricas.

Gertrude não era só uma designer de jardins, ela foi também a criadora de muitos artefactos para casa e jardim, como ferramentas, adornos, cestarias, bordados e vasos.

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No seu livro The Wild Garden, publicado em 1870, William Robinson defendeu uma rutura com o jardim vitoriano, era  mais pela  liberdade nas plantações e pela diversidade de plantas, conferindo uma aparência pitoresca e natural. Gertrude concordou e a partir daí tornaram-se amigos íntimos, ela colaborou com ele no livro  The English Flower Garden, publicado em 1883 e na casa que ele comprou em 1884, Gravetye Manor, em Sussex.

Durante a sua vida ocupada como designer de jardins, executou mais de 400 encomendas, para clientes no Reino Unido, Europa e América. Administrou um negócio próspero de viveiros e produziu diversas plantas novas, até finais dos anos 80.

Foi uma escritora prolífera em toda a sua vida adulta. Começando após seu 55º aniversário, escreveu 13 livros, vários dos quais foram revistos e re-editados durante a sua vida e contribuiu também para secções de livros de outras pessoas. As primeiras edições, se tiver sorte, podem ser encontradas em livrarias especializadas ou distribuidores; edições modernas da maioria dos títulos estão geralmente disponíveis.

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Escreveu  mais de 1.000 artigos sobre os temas em que tinha experiência, publicados principalmente na Country Life, The Garden e Gardening Illustrated.

Em 1930 sozinha, já depois de ter feito 86 anos, escreveu 43 artigos para Gardening Illustrated. O seu estilo de escrita era meticuloso, prático e científico, sempre com grande atenção aos detalhes de impressão e layout; um de seus editores, disse: “Eu preferia cortar as asas a um arcanjo do que tocar em qualquer um dos textos que ela fornecia ás editoras.”

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A morte…

Faleceu  a 9 de dezembro de 1932, na sua casa, Munstead Wood em Surrey. Está sepultada nas proximidades do adro da igreja de São João, Bushridge. O seu velho amigo, William Robinson, apesar de muito doente assistiu  ao funeral numa cadeira de rodas, com 94 anos. Edwin Lutyens escreveu estas palavras na sua lápide:

“I have lived among outdoor flowers for many years and rejoice when I see anyone, and especially children, inquiring about flowers, and wanting gardens of their own.” Gertrude Jekyll

Saiba mais em www.gertrudejekyll.co.uk.

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