Aproximamo-nos do Natal e Azevinhos e Poinsétias são o tipo de plantas que instintivamente nos ocorrem como símbolos desta época festiva. As pinhas das coníferas também são muito características e utilizadas por esta altura.
Quando penso no Natal lembro-me de cycas, extraordinários seres vegetais que remontam ao tempo dos dinossauros e que, tal como as coníferas, produzem, também nesta altura, uma espécie de pinhas dignas de constar na lista dos mais bonitos símbolos natalícios. Tanto as folhas, cuja morfologia é variável de acordo com as espécies, como os cones reprodutivos (de várias formas e tamanhos) e as sementes (de diferentes cores: verde, castanho, laranja, amarelo, vermelho) acrescentam beleza a estas extraordinárias plantas.
As cicadófitas, comummente conhecidas por cycas, pertencem à divisão Cycadophyta e ordem Cycadales e constituem um grupo de plantas muito antigo e distinto. Frequentemente são confundidas com palmeiras ou fetos arbóreos, no entanto, estes grupos de plantas diferem entre si em muitos aspetos estruturais, funcionais e reprodutivos.
As cicadófitas são plantas perenes, de crescimento lento, cujas folhas funcionais ocorrem numa coroa situada no ápice do caule.
São dióicas, uma vez que desenvolvem cones masculinos e femininos em plantas distintas, e reproduzem-se por sementes nuas, protegidas apenas por tegumentos mais ou menos carnosos, daí serem consideradas plantas gimnospérmicas, ao contrário do que acontece com as angiospérmicas, cujas sementes estão protegidas por um fruto originado a partir do ovário existente nas flores, uma capacidade reprodutiva muito recente, tendo em conta a história evolutiva das plantas.
As cicadófitas são, assim, consideradas verdadeiros fósseis vivos e, juntamente com a espécie Ginkgo biloba, dominaram a flora existente na Era Mesozóica, durante o Período Jurássico e início do Cretácico (embora tenham surgido muito antes, na Era Paleozóica, início do Pérmico). Contudo, foi durante o Terciário, há cerca de 60 a 50 milhões de anos, que surgiram as três famílias de cicadófitas atuais (Cycadaceae, Zamiaceae, Stangeriaceae).
Embora, no passado, as cicadófitas tenham dominado a vegetação terrestre, na atualidade, a sua situação é bastante distinta: as três famílias referidas têm apenas 11 géneros e cerca de 250 espécies (embora este número não seja consensual). Estas espécies podem ser encontradas em regiões tropicais, subtropicais e temperadas dos hemisférios Norte e Sul, porém, é na América Central que se encontra a maior diversidade de espécies.
A distribuição mundial das cicadófitas continua com um número substancial de plantas na África do Sul, Austrália, América do Sul, Sul da América do Norte e Caraíbas. O género Cycas é o mais amplamente distribuído, com exemplares no Japão, China, Ásia, Sudeste Asiático, inúmeras ilhas do Pacífico, Austrália, Costa Leste de África e Madagáscar.
O Parque Terra Nostra possui uma coleção de 88 espécies e subespécies de cycas, oriundas dos quatro cantos do mundo. Um pequeno contributo para a preservação destas plantas que outrora dominaram a vegetação terrestre mas que hoje em dia, e infelizmente, são cada vez mais raras e difíceis de encontrar.
Boas Festas!
Carina Amaral Costa, com 29 anos, é natural da Ilha de São Miguel, Açores.
Concluiu, na Universidade dos Açores, uma licenciatura e mestrado em Agronomia, e desempenha as funções de Eng. Agrónoma no Parque Terra Nostra desde 2012.
Colabora com o Portal do Jardim dando largas ao gosto pela escrita e pela partilha de conhecimentos.
Promete, mensalmente, relatar o seu quotidiano num dos parques mais ricos a nível botânico, abordando conteúdos sobre plantas, técnicas de jardinagem utilizadas, problemas fitossanitários e respetivos tratamentos. Todavia, e perante tamanha diversidade existente no local onde trabalha, os conteúdos a abordar são ilimitados.