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Paço Episcopal de Castelo Branco, um exemplo do barroco nos jardins

Texto: Catarina Gonçalves Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

A Tudo Sobre Jardins visitou num mês de Março os maravilhosos jardins do Paço Episcopal de Castelo Branco, o dia estava solarengo o que tornou este passeio ainda mais agradável. O Paço Episcopal, hoje o Museu Francisco Tavares Proença Júnior, é um exemplo da arquitetura religiosa residencial, renascentista, barroca e rococó.

Em finais do século XVI, D. Nuno de Noronha, bispo da Guarda, mandou construir o Paço Episcopal de Castelo Branco. Através das gravação lapidar e brasonada podemos verificar que a obra de edificação teve início em Maio de 1596 concluindo-se dois anos mais tarde. O edifício destinava-se a moradia temporária dos prelados, durante os períodos do Inverno, uma vez que o clima de Castelo Branco era um pouco mais ameno que o da Guarda. Em 1771, com a criação da diocese, o Paço de Castelo Branco tornou-se, então, residência episcopal de carácter permanente.

Foi apenas em 1711, que a residência de Castelo Branco foi objecto de obras de reedificação, por D. João de Mendonça. Nesta altura foi então construído o jardim, e ainda uma quinta ajardinada.

A partir da data da sua tomada de posse, 1782, o segundo bispo de Castelo Branco, D. Frei Vicente Ferrer da Rocha realizou logo obras de melhoramento no paço e algumas intervenções nos jardins e na organização espacial do bosque. Com a colaboração do arquitecto e frade dominicano Daniel da Sagrada Família foram realizadas intervenções no corpo erguido a norte que inclui a escadaria e a porta nobre, a varanda, a colunata e o salão de entrada o que conferiu ao paço uma maior capacidade.

Em 1786, deu-se grande incremento à aquisição de peças ornamentais que povoaram todo o paço, quinta e jardins.

Antecede o paço um enorme pátio murado, para onde está voltada a fachada principal. Esta é de dois pisos, tendo todo o piso superior características de andar nobre, pelo emprego de janelas de sacada rematadas por frontões contracurvados, em oposição às janelas simples, quadrangulares do piso térreo.

A fachada voltada para o jardim é mais pobre, e apresenta ainda elementos do antigo edifício quinhentista, onde se evidencia uma loggia. Também no interior se podem ver ainda estruturas do século XVI, hoje ocupadas por salas de exposição e já muito empobrecida, a antiga capela com tecto em caixotões de talha dourada com pinturas, do século XVIII, que representam as Litanias da Virgem e outras alegorias às Armas da Castidade.

O jardim articula-se em vários planos, terraços, cada um decorado de forma diversa, com diferentes imaginários.

Para além da zona do designado “Jardim Alagado” formado por um tanque de planta quadrilátera irregular, existe um terraço superior, sobranceiro a todas as áreas.

A tipologia construtiva do paço influenciou muitas das construções da época e posteriores, tendo-se tornado numa referência para a arquitectura daquela zona.

O jardim

O jardim do Paço Episcopal de Castelo Branco é um dos mais originais exemplares do barroco em Portugal. Em especial no que respeita à estatuária: aos aspectos simbólicos e à disposição dos seus elementos em percursos temáticos.

Foi o Bispo da Guarda, D. Joăo de Mendonça (1711-1736) que encomendou e provavelmente orientou as obras do Jardim. Mais tarde, já no fim do séc. XVIII, o segundo bispo da Diocese de Castelo Branco, D. Vicente Ferrer da Rocha fez ali obras de algum relevo. Em 1911, o Jardim passa para as mãos da Câmara Municipal por arrendamento e em 1919 esta adquiriu o Jardim a título definitivo.

Este jardim Barroco, em forma rectangular, é dominado por balcões e varandas com guardas de ferro e balaústres de cantaria. Apresenta cinco lagos, com bordos trabalhados, nos quais estão instalados jogos de água. No patamar intermédio da Escadaria dos Reis existem repuxos e jogos de água surpreendentes.

Por entre os canteiros de buxo erguem-se simbólicas estátuas de granito, em que se destacam os Novíssimos do Homem, Quatro Virtudes Cardeais, as Três Virtudes Teologais, os Signos do Zodíaco, as Partes do Mundo, as Quatro Estaçőes do Ano, o Fogo e a Caça. Dispostos à maneira de escadório, encontram-se representados os Apóstolos e os Reis de Portugal até D. José I.

No patim superior, encontram-se estátuas alusivas ao Antigo Testamento e à simbologia da água como elemento purificador. O Jardim Alagado, tanque floreado de curvas bem delineadas e canteiros de flores, tem ao centro um repuxo de cantaria por três golfinhos entrelaçados e encimados por uma coroa.

Este jardim beneficiou de uma profunda e complexa intervenção de restauro e conservação, no âmbito do Programa Polis, a nível de tratamento de vegetação, reintrodução de espécies vegetais originais, recuperação dos sistemas de águas, iluminação cénica e drenagem.

A intervenção contemplou também na limpeza da cantaria e recolocação de estátuas nos locais originais, recuperação dos muros e do tanque principal, sob a cascata de Moisés. Durante a intervenção foi descoberto o sistema hidráulico perfeitamente intacto, construído em 1725, procedendo-se à sua conservação e restauro.

Azulejos do Jardim do Paço Episcopal

Os muros delimitadores do Jardim do Paço apresentam painéis de azulejo figurativo, monocromo, azul sobre fundo branco, representando várias vistas de Castelo Branco, da Antiga Quinta e Bosque, a Capela de São João e respectivo Cruzeiro; aparecem, ainda, painéis de azulejo rectilíneos, com os ângulos curvos, emoldurados a cantaria e a faixa cerâmica, a representar os desenhos de Castelo Branco, efetuados por Duarte de Armas, no Séc. XVI, bem como a representaçăo do bispo D. João de Mendonça.

Horário:

Verão: todos os dias da 09:00 às 19:00

Inverno: todos os dias das 09:00 às 17:00

 

Localização:

Castelo Branco, Rua São Bartolomeu da Costa, Antigo Paço Episcopal

 

referências:
Direção-Geral do Património Cultural
Câmara Municipal de Castelo Branco