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Alfazema: A Alma da Provença*

 

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[b]História[/b]
Quem nunca sonhou em passear-se entre campos de alfazema e deixa-se envolver por uma sensação de relaxamento e bem-estar? Perfumada e delicada, rica em propriedades curativas, a alfazema ou lavanda tem sido cultivada e utilizada desde os primórdios da civilização. Ao longo da história, a alfazema tem sido utilizada para os mais diversos fins. Desde repelente de insectos, a componente essencial utilizada em poções mágicas na Idade Média. É inegável a importância desta planta na história da perfumaria, desde a antiguidade até aos dias de hoje. Julga-se que a [i]Lavandula stoechas[/i] tenha sido levada para o sul da França por volta de 500 a.C., quando os colonizadores gregos se estabeleceram na região de Marselha. Os egípcios utilizavam a alfazema no processo de mumificação dos corpos e inventaram –cerca de 4000 a.C.– formas de extrair o óleo essencial da planta por distilação. Este conhecimento milenar foi transmitido aos gregos, romanos e para o mundo árabe onde essa arte se desenvolveu durante o auge da cultura árabe nos séc. X e XI. Os fenícios e os árabes já se perfumavam com alfazema.
Os romanos utilizavam alfazema nos seus banhos, perfumes, tratamentos de beleza, também na culinária e ainda em rituais religiosos. Durante o séc. XV, quando a farmacologia e a arte de curar começaram a seguir caminhos diferentes, a distilação estabeleceu-se na Europa.

 

l. stoechas

[i][b]Lavandula stoechas[/i][/b]
Existem cerca de quinze espécies de alfazema, onde se inclui o nosso rosmaninho ([i]Lavandula stoechas[/i]), também conhecida por lavanda espanhola que é a variedade por ventura mais cultivada nas regiões do Mediterrâneo e, por tanto, que melhor se adapta a esse clima. Cresce nas montanhas do sul da França, Espanha e Portugal. Era esta a variedade mais utilizada na distilação na Idade Média. As suas flores assemelham-se a pequeninos ananases de cor roxo acizentado. Podem florir várias vezes ao ano, ao passo que a [i]L. angustifolia[/i] tem um período mais regular de floração (Julho e Agosto). É menos tolerante ao frio do que a lavanda inglesa ou [i]angustifolia[/i] que chega a tolerar

l. stoechas

25ºC negativos. A stoechas tolera ainda solos mais ácidos, do que a [i]angustifolia[/i] que prefere solos calcários, mas ambas gostam de solos bem drenados. A stoechas não é utilizada na culinária, pois tem um odor canforado, robusto e pungente, que faz lembrar a menta, o alecrim ou mesmo o pinheiro. Pode atingir cerca de um metro de altura.

 

[b]Lavanda francesa, Lavandula dentata e Lavandula X intermedia conhecida também como lavandin.[/b]
Esta variedade é muito utilizada nas sebes. É um híbrido da [i]Lavandula vera[/i] / inglesa. Em flores de várias tonalidades lilás, azul, rosa e até mesmo branco. Varia entre 40cm e 1 metro, as folhas variam de um verde escuro, até verde cinza. É muito utilizada na perfumaria. A França é hoje o maior produtor mundial de óleo essencial de alfazema. É na região da Provença, no sudeste francês, que se encontra a maior concentração de plantações. Devido ao seu alto teor de óleo canforado, os aroma-terapeutas utilizam-na bastante no tratamento de doenças respiratórias. O lavandin que consegue crescer em solos muito calcários e arenosos, sobrevivendo ao rigor do frio de Inverno e ao calor do Verão quase sem chuvas, só as plantas muito resistentes e robustas sobrevivem a estes extremos. Esta planta que crescia perto de Grasse entre 500/1800 metros acima do nível do mar, era uma espécie selvagem, colhida por crianças, mulheres e pastores e vendida para a indústria de perfumaria daquela região, que se encontrava em plena expansão nos finais do sé. XIX quando se inaugurou a era de ouro da perfumaria. Nessa época, aumentou a procura e a colheita da alfazema passou a ser uma actividade comercial organizada trazendo grandes benefícios aos agricultores locais que assim viram as suas vidas transformadas ao perceberem que esta planta era uma cultura muito mais resistente do que qualquer. Passaram, então, a cultivar o lavandin, que era um híbrido da [i]Lavandula angustifolia[/i] e da [i]L. latifolia[/i] e que se revelou ser mais resistente a doenças, mais barato de produzir e atendia às necessidades de encomendas em grande escala de sabonetes, colónias e perfumes.

Lavandula angustifolia

 

[b]Lavanda inglesa também conhecida por Lavandula oficinalis, Lavandula angustifolia ou Lavandula vera[/b]
Existem várias sub-espécies desta planta. As flores são azul púrpura, mas as variedade silvestres podem ser brancas, rosas ou lilases (os aroma-terapeutas preferem a lavanda selvagem). Pode atingir 60 centímetros de altura e o seu perfume é fino, doce e sem cânfora. É um importante componente na perfumaria de alta qualidade. As espécies de melhor qualidade situam-se a 1200 metros de altura nos Alpes marítimos franceses. Na Inglaterra é a famosa região de Norfolk, no noroeste, onde se encontram as maiores plantações desta espécie. A sua história começou em 1932 em que foram plantadas 33 mil pés. Nos anos 60 o fungo shab devastou grande parte das plantações inglesas. Hoje, a planta consiste em seis variedades escolhidas a partir de quase cem híbridas. Esta lavanda é uma das mais procuradas do mundo. Devido ao seu perfume doce, esta é a variedade mais utilizada na culinária.

Lavandula oficinalis

 

[b]Propriedades[/b]
A alfazema é um dos melhores remédios para queimaduras e picadas de insectos em forma de infusão fria e emplastres ou ainda sob a forma de óleo essencial que é dos poucos que se pode utilizar directamente sobre a pele. É anti-séptico, anti-bacteriano, e muito útil para estagnar o sangue em pequenas feridas, desinfectando-as ao mesmo tempo. Útil em infecções das vias respiratórias, especialmente a variedade [i]stoechas[/i] cujo aroma é muito mais canforado. Podem-se fazer vapores fervendo a planta num tacho, e respirando os vapores. O forte aroma para além de ajudar as vias respiratórias, descongestiona e desinflama os pulmões, e atua como relaxante do sistema nervoso, tosse e constipações. Muito utilizada para curar dores de cabeça, sobretudo se forem de origem nervosa. É um bom sedativo combatendo ansiedade e tensão. Ajuda ainda a relaxar espasmos do sistema digestivo, tomado em forma de chá feito a partir das flores. O óleo essencial pode juntar-se ao óleo de massagem para combater dores musculares e reumáticas. É útil ainda no combate ao acne. Em pequenos saquinhos colocados por baixo das almofadas dos bebés, tranquiliza-lhes o sono e ajuda-os a adormecer. É ainda útil nalguns casos de asma, sobretudo de origem nervosa. Para as dores de ouvidos, aplicar directamente duas ou três gotas de óleo essencial, tapando depois com algodão.

Para as mulheres, um tampão onde se colocam duas ou três gostas de óleo ajuda a combater os corrimentos vaginais e é ainda útil nas depressões pós parto, em forma de infusão tomada três ou quatro vezes ao dia.

[b]Composição[/b]
Óleo volátil (até 3%). Contém mais de 40 componentes: cineol, linalol, nerol, resinas, taninos, princípio amargo, saponinos, ácidos, flavonóides, cumarinos, entre outros.

[b]Agricultura[/b]
A alfazema é de extrema utilidade plantada com outras aromáticas, hortícolas e árvores de frutos. Para além de fazer bonitas sebes, é um repelente natural de várias pestes, nomeadamente pulgões, carraças, escaravelhos, moscas e outros insectos. A alfazema em aspersões a 2% mata em 24 horas 50 a 80% das pragas que infectam o algodão. É ainda um repelente eficaz dos ratos e das traças, quando colocada em saquinhos nas gavetas, roupeiros e debaixo dos tapetes. Podar regularmente.

[b]Veterinária[/b]
Em casos de conjuntivite, lavar os olhos dos animais com uma infusão de alfazema. O mesmo pode ser usada para a limpeza de feridas ou para acalmar a comichão das picadas de pulgas.

[b]Culinária[/b]
A variedade mais utilizada é a angustifolia. Existem várias receitas, desde gelados, batidos, biscoitos, pão, carne, queijo, etc. As flores dão um sabor especial quando adicionada ao sumo de ananás ou ainda misturadas no molho de hortelã-pimenta ou na massa de biscoito de limão ou de qualquer outro bolo. Use a sua imaginação e deixe-se surpreender pelas delícias que um pequeno aroma de alfazema pode fazer aos seus pratos, tanto na decoração, como no sabor. Pode ainda preservar as flores de alfazema em camadas alternadas de açúcar e flores. Este açúcar quando utilizado na confecção de bolos ou para adoçar bebidas, confere-lhes um aroma doce, delicado e levemente perfumado.

[b]Receita[/b]
Biscoitos ingleses Shortbread – 1 chávena de manteiga; 1 chávena de açúcar; 2 colheres de sopa de raspa de limão; 1 pitada de sal; 3 chávenas de farinha; 2 colheres de chá de pétalas de alfazema seca. Numa tigela grande, misturar a manteiga, o açúcar e o limão. Noutra tigela, misturar a farinha com a alfazema desfazendo as pétalas com os dedos para soltar o aroma.. Depois juntar o sal e misturar tudo, continuando a amassar. Por numa forma, fazendo alguns furos na massa com um garfo. Levar ao forno pré aquecido e cozer durante cerca de meia hora.

[b]Cosmética[/b]
A alfazema é das plantas mais utilizadas na cosmética, no fabrico de perfumes, sabonetes e cremes de beleza, não só pelo seu aroma, mas também pelas suas propriedades.

[b]Receita[/b]
Creme de alfazema – 8gr de cera de abelha; 15ml de lanolina; 45ml de azeite; 1 colher de sopa de flores de alfazema; 45ml de água destilada; 20 gotas de essência de alfazema. Misturar em banho-maria a cera, a lanolina e o azeite. Ferver as flores na água destilada. Deixar arrefecer, coar, misturar tudo, mexendo sempre. Assim que o creme começar a solidificar, acrescente as gotas e ponha em recipientes de vidro.

*Jean Giono