O momento em que surgem as primeiras flores de Jacarandá nunca passa despercebido. Os mais atentos às mudanças de estações experimentam neste acontecimento, natural, e que aparentemente nada tem de extraordinário, o cumprimento de um ciclo que, conscientemente ou não, nos modela a forma de sentir esta época do ano. De uma forma geral esta floração anuncia o fim da Primavera, o início dos dias longos e quentes de Verão. O “extraordinário” reside nisso mesmo. Uma cor quase irreal anuncia uma época do ano, esperada com alguma ansiedade. Durante o resto do ano passamos por estas magníficas árvores sem lhes prestarmos a devida atenção, embora elas permaneçam nas nossas ruas, praças e jardins todo o tempo.
Talvez seja altura de conhecer melhor a importância desta árvore noutras vertentes, não menos importantes que o espectáculo oferecido nesta época.
Na época que atravessamos de incerteza face às alterações climáticas, apenas sabemos que as mesmas são reais, embora desconheçamos a magnitude das mesmas no futuro. Sabemos no entanto, que as árvores das nossas cidades têm um importante papel de regularização climática e benefícios ecológicos comprovados. Talvez esta seja uma razão para olharmos para as nossas árvores com maior respeito e admiração durante todo o ano, deixando-nos obviamente maravilhar quando o espectáculo não é para menos.
Um estudo recente [1] quantifica benefícios estéticos, ecológicos e sociais associados a esta espécie, nomeadamente, o valor da energia poupada (aquecimento e arrefecimento), valor anual de melhoria da qualidade do ar, valor anual da redução de CO2, valor anual da redução do escoamento de água superficial e ainda o valor associado ao aumento do valor imobiliário, devido à presença de árvores na proximidade de habitações. O Jacarandá representa, segundo o mesmo estudo, um valor anual de 146,00 euros/indivíduo (árvore). Esta forma de olhar a árvore talvez nos dê argumentos para melhor a usarmos e conservarmos as que existem.
Os seus troncos de cor castanho muito escuro e tortuosos são muito interessantes, mas infelizmente as podas exageradas a que são sujeitos têm acabado por deformá-los, pelo que já é raro encontrarmos exemplares bem conformados nos arruamentos. Ainda assim alguns jardins têm sabido conservar-lhes a sua silhueta e porte natural, de grande beleza. A poda desta árvore apenas deve ser feita para permitir a formação de um tronco central direito que garanta a estabilidade da árvore, sobretudo em zonas urbanas. Quando excessivamente podada a árvore lança ramos ladrões verticais deformando irreversivelmente a estrutura da copa.
A sua floração depende da luminosidade, como aliás acontece com quase todas as espécies, pelo que só a exposição plena ao sol nos permite desfrutar da profusão de flores em cacho que cobre por completo a árvore nesta altura do ano. O forte odor desta floração apenas ocorre nas regiões subtropicais, infelizmente em Portugal tal não acontece.
[1] Soares, A.L; Castro Rego, F; Castel-Branco, C; Santos Pereira, J; Correia, A.- O Valor da Árvore na Cidade; Lisboa, 2008
Maria João Cabral, licenciada em Arquitectura Paisagista pela Universidade de Évora. Exerce a profissão desde 1990, essencialmente no projecto e construção de espaços exteriores (públicos e privados). Colaborou com diversas empresas e entidades públicas, nomeadamente com o ISA e Parque Expo’98 na concretização e manutenção dos Jardins Garcia de Orta.
Em 2003 formou a empresa de arquitectura paisagista, Landing, prestando serviços de projecto, ordenamento do território, direcção e fiscalização de obra e formação.