Cavar ou Não Cavar?

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Alguém um dia disse: o verdadeiro jardineiro não é aquele que cultiva flores; é aquele que cultiva o solo. A verdade por trás desta afirmação – que o solo não é um meio inerte, passivo, mas sim um vivo e complexo meio que necessita de ser nutrido – pode causar algum espanto.

Cavar é normalmente desagradável por ser uma actividade extenuante e rotineira. Além disso, cada vez mais se defende que é uma prática desnecessária e às vezes até potencialmente prejudicial para o solo, como rotina regular. Alguns jardineiros experientes insistem que o solo deve ser cavado todos os Outonos de forma a melhorar a sua fertilidade e estrutura, e até como método de controlo de infestantes assegurando uma época seguinte mais propícia. As questões que envolvem o solo e a sua gestão são complexas, necessitam por isso de estar presentes na formação individual de qualquer amante da jardinagem.
Cavar é muitas vezes algo adquirido como uma garantia para melhorar a drenagem, a estrutura do solo e a sua fertilidade, mas não representa uma panaceia para resolver todos estes potenciais problemas. Pode ser danoso para o solo e está longe de ser a única técnica aplicável. Por definição, todo o acto de cultivo implica uma perturbação do solo, mas os estudos mostram cada vez mais que a perturbação mínima dos organismos do solo e dos seus complexos processos químicos e físicos são de longe a melhor forma de agir. Esta prática é designada por [i]mobilização mínima do solo[/i].

Técnicas de baixa intervenção, como a cobertura de solo com estilha, casca de pinheiro ou outros materiais com idêntica função, cultivar plantas de cobertura de solo, evitar a sua compactação com a passagem de pessoas e máquinas por locais específicos, pode ajudar a prevenir problemas, como os de má drenagem ou deterioração da sua estrutura, eliminando a necessidade de cavar.
Pode no entanto ser necessário cavar em situações particulares, como por exemplo, quando um solo se revela impermeável ou demasiado compacto, de forma a poder contrariar esta tendência.
Acima de tudo, há que ser pragmático: o que é bom para a nossa horta não é necessariamente apropriado para o nosso roseiral; Tentar escolher plantas de acordo com o pH do nosso solo é bem mais fácil do que tentar alterar a sua química. A boa gestão do solo não é difícil, desde que saibamos qual o tipo de solo que temos e adaptemos a sua gestão às nossas necessidades de forma evitar futuros problemas.
A análise do solo em laboratório ou recorrendo a kits de fitas e/ou reagentes que começam já a aparecer no mercado nacional torna-se hoje em dia uma ferramenta indispensável para qualquer jardineiro que se preze. É fácil de fazer, barata e serve como base para iniciar todos os trabalhos necessários para recuperar o nosso solo, produzindo resultados que fazem a diferença entre sucesso e insucesso, a médio/longo prazo.

[b]Como Evitar Cavar? [/b]
Preparar o terreno em camalhões – problemas relacionados com má drenagem, baixa fertilidade ou subsolo muito superficial podem ser contrariados na horta ou jardim, construindo camalhões, modelando o solo em ‘camas’ levantadas acima da superfície do mesmo.
Cobertura do solo – consiste na utilização de materiais de cobertura, que para além de contribuírem para o controlo de infestantes, mantém a estrutura do solo e promovem a vida abaixo deste. Podem ficar alguns anos sem ter que ser cavados.

Encorajar a presença de minhocas – As minhocas estão constantemente a arejar o solo e a transformar a matéria orgânica em húmus, promover a sua presença contribui para o aumento da fertilidade a médio prazo. Cavar interrompe a sua actividade. Incorporar composto ou estrumes é uma boa forma de as atrair. Corrija o pH dos solos ácidos, já que as minhocas não toleram valores inferiores a pH 5.

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Luís Alves

LUÍS ALVES tem 36 anos, é do Porto. Lecciona em diversos cursos de jardinagem e espaços verdes, plantas aromáticas e medicinais, e foi orador convidado de diversas palestras sobre os temas. É técnico de Agricultura Biológica, escrevendo regularmente para revistas especializadas. Editou um DVD com um curso de PAM. Nos últimos 7 anos é agricultor e viveirista, produzindo em modo de produção biológico plantas aromáticas, medicinais, condimentares e flora espontânea autóctone, sendo também consultor especializado em jardinagem e espaços verdes. Foi galardoado com «1º Prémio “Agricultor sobresaliente en actividades innovadoras” 2008»