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Bonsai, em sentido estrito, e traduzindo o termo, significa “árvore em pote”.

Em sentido lato, muito mais vasto e abrangente, abarca toda uma Arte que envolve regras, mas também sentimentos, emoções e modos de ver a vida. Indo um pouco mais além, quem se envolve com esta Arte acaba por se ver a si próprio com outros olhos, rodeado de um mundo que se revela muito intenso, harmonioso e aprazível.

Para dar uma ideia muito geral, em jeito de esboço ou pincelada tosca, começo pelo início: o bonsai é uma Arte milenar, que teve as suas origens na China, durante a Dinastia Tsin-Chin (265-420 d.C.), tendo-se desenvolvido no Japão por volta de 552 d.C. Desperta interessa nos EUA por “importação” durante a 2ª Guerra Mundial e chegam à Europa na década de 1960, através de uma mostra em Inglaterra (Chelsea Flower Show).

Consiste, basicamente, em criar Obras de Arte vivas, com recurso a espécies vegetais (árvores ou arbustos), recorrendo à observação da Natureza, para definição de regras estéticas, e a técnicas de jardinagem aperfeiçoadas a um mundo “em miniatura”: a propagação vegetal, o encaminhamento e a poda de ramos e de raízes, a transplantação, a adubação, a rega, o estudo do solo e das condições climáticas, o tratamento de maleitas, são tudo rotinas que fazem parte do dia-a-dia de um bonsaísta, do mesmo modo que de um jardineiro ou de um agricultor. Com a devida proporção e peculiaridades associadas à Arte em si.

Um amigo perguntava-me outro dia: “E o que se vê num Bonsai?”. Para apreciação de um determinado exemplar, há que ter em conta, nomeadamente, a planta em si (se é uma boa espécie, se está de boa saúde…), as regras estéticas relacionadas com o estilo de apresentação que está retratado, o substrato (a “terra”) onde está plantada, o tronco (proporção entre o seu diâmetro e a sua altura), a transição do tronco para a raiz (Nebari), a disposição dos ramos principais e a harmonia com a estrutura de ramos secundários e terciários, a distribuição das folhas (a chamada “massa verde”), a cor e a forma do vaso e, por fim, a harmonia do conjunto planta/vaso e mesmo a composição em que ele se insere.

Esta composição, quando completa, retrata o que no Japão se denomina Tokonoma – uma apresentação num recanto da casa, reservado para o efeito, de três elementos: o Bonsai (simbolizando o Homem), uma planta de acompanhamento (Kusamono, simbolizando a Terra) e um pergaminho (Kakemono, simbolizando o Céu). Uma trilogia que transmita uma harmonia que se aproxime da perfeição, traduzindo uma comunhão universal entre aqueles três elementos.

Nomes difíceis de aprender, mas com conceitos agradavelmente viciantes por trás. Por vezes dá vontade de andar com um dicionário…

As Escolas Japonesas criaram um conjunto de regras em que se incluem conceitos estéticos muito vastos. Algumas dessas regras levam à definição dos já referidos estilos de apresentação, que geralmente conta a “história da árvore”, ou seja, o que se pretende retratar com o exemplar que se tem em mãos e o que se pretende comunicar que ele passou ao longo da sua vida: pode-se recriar uma árvore batida pelo vento (estilo fukinagashi), um ambiente em que árvore teve espaço e luz suficiente para crescer livremente, não sofrendo muito com as intempéries (estilo hokidashi), uma árvore de alta montanha, com o peso da neve a vergar-lhe os velhos ramos (estilo chokan ou formal direito), árvores em floresta (estilo yose-ue….) ou uma árvore que cresceu em ambiente agressivo, com quebra de muitos ramos devido a animais ou intempéries e que se estica em direcção aos céus para sobreviver (estilo literati). Ou simplesmente um estilo nosso, que retrate uma árvore ou um ambiente que nos agrada, muito ao sabor da “nova corrente europeia” denominada “naturalista”. É tudo uma questão de olharmos à nossa volta com olhos de ver, analisando o meio que nos rodeia com a mente aberta e o coração pleno, transportando o nosso sentir para aquele ser que, exigindo a nossa atenção, nos vai dando alegrias à medida que o tempo passa.

Como disse um Artista Internacional, de seu nome Tony Tickle e nacionalidade inglesa, Bonsai is not a destination. It is a journey. (“Bonsai não é um destino. É uma viagem.”)

E pode ser uma viagem deliciosa e agradavelmente longa.

Sobre a autora deste artigo:

Mariana Costa

Começou  como curiosa, a partir da aquisição dum exemplar Ficus retusa em 2002.

Comprou alguns livros, começou a interessar-se pelo assunto de um modo autodidata e inscreveu-se num curso em Sintra, em 2003.

Foi lá que deu os primeiros passos práticos e que travou amizade com quem, mais tarde, se iria envolver na fundação do Clube Bonsai de Sintra, pertencendo desde o início aos órgãos sociais desta associação e detendo desde Janeiro de 2013 o cargo de presidente da direção.

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