Um núcleo arquitectónico que conta a história da ourivesaria portuguesa. Com o jardim da Casa de Alfena como motivo para a nossa visita foi interessante constatar como este espaço, em Travassos, desempenhou um papel essencial na história da aldeia e dos seus habitantes.
Texto: Luisa Gonçalves Fotografia: Vasco de Melo
A Casa de Alfena é a uma casa solarenga do século XVIII, agregada a um conjunto de edifícios rurais e antigas oficinas de ourivesaria, que foram adaptados a uma unidade de turismo de habitação e a um Museu do Ouro. Este Museu resulta dos esforços do proprietário Francisco de Carvalho e Sousa, ourives, que ao longo de cinquenta anos de atividade, foi recolhendo espólio e documentação.
Foi nesta casa, no início do séc. XX que funcionou a primeira escola onde uma professora contratada ensinava as crianças. Foi também nesta casa que na altura da grande guerra e quando a guarda passava pelas aldeias a recrutar os jovens, estes eram escondidos na Sala da Manta, um compartimento secreto, onde permaneciam até que a guarda se ia embora.
A Casa de Alfena sempre foi um elemento muito importante da vida na aldeia
Chamam a Travassos “aldeia-oficina” e onde todas as famílias estão ou estiveram de alguma forma ligadas à ourivesaria. Aliás era de Travassos que seguia o ouro para Viana e Gondomar.
Como se explica tantas famílias na mesma aldeia a trabalhar na mesma arte? “Porquê e quando se fixaram aqui as pessoas é difícil de dizer dado que os registos não abundam e tudo é um saber contado”, como nos explica a nossa anfitriã Isabel Sousa, filha dos atuais proprietários da Casa de Alfena.
“O Rio Ave tem sem dúvida uma grande importância em tudo isto e o facto dos rios do norte serem auríferos, terão contribuído para a fixação de pessoas há muitos séculos atrás. Algumas obras em casas da aldeia também puseram á vista inúmeros túneis que demonstram que foram feitos trabalhos de exploração nos subsolos em tempos idos, mas como disse não há quase registos e nas análises recentes efetuadas á terra também não existem vestígios.
A nossa preocupação ao fazermos este Museu privado foi ir em busca dessa história, a juntar a todo um espólio existente e puder mostrar tudo isso ao público que nos visita”.
A aldeia tinha várias oficinas e atualmente restam 30 pequenos núcleos ativos e que mantêm esta arte centenária e que é bem portuguesa. Estas casas são facilmente identificáveis pelas amplas janelas quadrangulares viradas a sul assim aproveitando a luz do sol essencial para o minucioso trabalho da filigrana. Mas não nos enganemos porque na realidade a lavoura sempre andou de braço dado com esta arte. Travassos era terra de ourives lavradores. Nunca uma atividade se substituiu à outra, antes andavam em paralelo.
Segundo Isabel Sousa: “A ourivesaria da filigrana também se tem vindo a adaptar a novos tempos. Esta arte portuguesa tão nobre e secular está a atrair jovens designers que trabalham com os artesãos e desta parceria nascem novas peças que têm ajudado a reanimar a filigrana. Passou já essa ideia de serem acessórios muito pesados só colocados em dias festivos nas aldeias e com uma componente de estatuto social. Recentemente temos uma embaixadora excelente a artista plástica Joana Vasconcelos que tem tido um papel de grande relevância em prol desta arte com o seu gigantesco coração de filigrana.”
Esta viragem para o Turismo de Habitação acontece há cerca de 12 anos e o objetivo foi em primeiro lugar manter o património da família que se assim não fosse rapidamente se degradaria. A casa tem oferta de 5 quartos três na casa e mais dois em espigueiros recuperados junto à zona da piscina. Tem uma sala comum e sala de jogos. Tem condições excelentes para ser usufruida ao longo de todo o ano.
“Temos constatado também que com a diversidade de oferta existente há que marcar pela diferença e o Museu do Ouro por ser único acaba por ajudar e há quem nos procure por causa dessa componente ou para ficarem ou para visitarem. Tem sido igualemente palco de alguns workshops e exposições”.
Quanto ao perfil do visitante: “É muito variado mas sempre em busca de sossego em plena natureza, é isso que na realidade podemos oferecer aqui. A casa e jardins circundantes não são muito grandes estamos a falar de 3 hectares sensivelmente mas como estão muito resguardados podemos garantir a tranquilidade para aqueles que querem ficar a descansar e a ler junto à piscina. A outra vantagem é que a posição geográfica de Travassos permite aceder em menos de 30 minutos a outros destinos de interesse, seja Braga, Guimarães, Vieira do Minho, Parque Nacional da Peneda Gerês, Serra da Cabreira e Barragem do Erma”l.
E mais, “temos do nosso lado a arte de bem receber e isso sem dúvida é uma mais-valia, temos hóspedes que voltam e muitas vezes fazem daqui a base para os outros destinos. Outro aspecto que temos reparado e que tem aumentado é o turismo de natureza e podemos indicar alguns percursos aqui perto para quem goste de andar já para não falar da observação de pássaros que aqui aparecem um grande número e diversidade”.
No jardim o espaço é em patamares, com amplos relvados, nas zonas de passagem as latadas muito altas são uma imagem de marca e os buxos, agapantos e bambus marcam uma presença relevante. A água é também um factor importante neste espaço com as fontes e a piscina nos patamares cimeiros. A sensação que dá é de uma extrema simplicidade e de grande elegância, o jardim fechado sobre si próprio garante o sossego. A parede de bambus no limite do jardim e as latadas altas quase que formam um prolongamento da casa acolhendo o visitante.
A casa mantém a traça exterior mas o seu interior foi modernizado e esta modernização reflete-se também no espaço exterior com utilização da calçada portuguesa e duma rampa em Z com canteiros, muito bem pensada fazendo a ligação entre a casa e o patamar do relvado principal.
A Casa de Alfena faz parte da rede Solares de Portugal
Reservas e informações: Center tel: 351 258931750 e info@center.pt
Coordenadas GPS
N 41 ° 34 ‘22.5 ”
W 08 ° 12 ‘05.3 “
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