Texto: Catarina Gonçalves Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves
O projeto do Estoril Sol Residence tem sido alvo de algumas polémicas, o impacto na paisagem é incontornável, uns gostam outros não. Mas a zona de jardins é inegavelmente uma lufada de ar fresco, um espaço não muito grande que consegue ser harmonioso e relaxante. O constante som da água que percorre o jardim convida os seus visitantes a sentarem-se e tirarem partido da vista. A autoria deste projeto é da GAP, atelier de arquitetura paisagista de Francisco Caldeira Cabral e Elsa Matos Severino.
Em termos de manutenção apesar dos jardins estarem bem cuidados tivemos pena que alguns dos seus visitantes pensem que os elementos de água são caixotes do lixo e estes não estarem a ser limpos, mas o jardim no seu conjunto é um espaço agradável para parar e aproveitar o sol antes de ir para as zonas mais sombrias do Parque de Palmela.
É a passagem entre estas duas zonas, que são tão contrastantes, que as tornam ainda mais interessantes, entre o jardim contemporâneo e o parque tradicional. Os dois espaços são de visita obrigatória.
Impressão do arquiteto Gonçalo Byrne
“O projeto surgiu-me, desde logo, como muito complexo. Inserido na boca do Vale da Ribeira da Castelhana, que é um local muito curioso, porque gera um microclima. A relação do mar com o vale era o grande desafio, mesmo numa perspetiva histórica. Na segunda metade do século XIX, a Casa de Palmela comprou aqueles terrenos, com cerca de um quilómetro de profundidade. Aí se mandou construir uma casa, um palácio muito interessante sob o ponto de vista arquitetónico, desenhado por um arquiteto inglês da escola de William Morris. A partir daquela casa, pegam no terreno por ali acima e dão origem ao Parque Palmela, uma unidade de grande riqueza natural, perpendicular à costa, que subsiste até à chegada do caminho-de-ferro. É este que vem cortar a relação entre o palácio e o Vale. Esta rutura é reforçada mais tarde com a avenida Marginal, já no tempo do Estado Novo. A relação entre o mar e a Falésia foi progressivamente cortada, a clivagem aumentada.
Devido ao processo galopante de urbanização, o Parque vai ficando confinado ao vale. É neste contexto que surge o Hotel Estoril-Sol, um edifício historicamente com algum interesse, mas com grandes problemas de implantação, por causa da sua relação com a Falésia. No fundo, acabou por criar uma espécie de tampão compacto visual. A minha questão era como gerir aquela área sem criar um tampão. Perguntei-me: o que acontece quando eu tirar o Hotel? A comparação é semelhante à extração de um dente. O cenário é atemorizador. Fica a Falésia em desequilíbrio, completamente betonada. O nosso projeto passou por duas condições fundamentais. A primeira pode descrever-se deste modo: tratar a cicatriz, dar uma inclinação mais suave à Falésia, girando-a para o Vale. Ao mesmo tempo replantar toda esta frente de verde, duplicando a frente de coberto vegetal para o mar.
A segunda questão: trabalhar o conjunto do Estoril-Sol Residence como uma espécie de grande escultura urbana à escala da topografia do vale. É um todo edificado que assume claramente a diferença entre a cota do mar e a cota alta do Vale, e que é modelado com movimento e aberturas suficientemente grandes para se interpenetrarem com aquela superfície verde do Parque, que se pode ver desde Cascais, desde o mar, como aumenta. Procurei terminar com a ideia de tampão, de torre. Regenerando o tecido da Falésia, o projeto tem quase mais uma dimensão paisagística, geográfica, que arquitetural. Dialogar com esta grande unidade entre a Falésia, o Vale e a Natureza, articulando-a como uma Escultura frente ao mar foi o desafio que encarei. No contexto da minha obra trata-se de um projeto apaixonante, com o fator aliciante de se inserir no contexto urbano de Cascais, com toda a sua riqueza histórica e patrimonial, no âmbito de uma linha costeira de grande projeção internacional. Um desafio ao qual não resisti.“
O autor do projeto arquitetónico de Estoril-Sol Residence.
O Parque de Palmela está localizado na ‘fronteira’ entre Cascais e o Estoril, foi mandado construir pelos Duques de Palmela, por volta de 1870. A própria Duquesa, mulher com grande interesse nas artes plásticas, fez questão de acompanhar de perto a construção do jardim, para que o espaço refletisse o seu gosto.
Recentemente o espaço foi enriquecido com mais uma oferta de lazer: um circuito de arborismo, cujo objetivo passa por promover a prática de desportos ao ar livre e a sensibilização ambiental. A criação desta nova valência (mais informação em www.pedacosdeaventura.com) é uma oportunidade para os visitantes terem contacto direto com a natureza do Parque Palmela, através de diversas atividades. Neste espaço pode encontrar um exemplar do Pinheiro das Canárias, classificado como “árvore isolada de interesse público”, devido à sua raridade e porte.
Ficha Técnica Estoril-Sol
Dono de Obra
Estoril-Sol, Investimentos Hoteleiros, S.A.
Início e Conclusão da Empreitada:
Março 2007 a Agosto 2010
Área de Construção:
28.800m2 acima do solo
26.000 m2 abaixo do solo
Projeto de Arquitetura:
Gonçalo Byrne Arquitetos, Lda. – Arqt.º Gonçalo Byrne
Coordenação Do Projeto:
Rolf Heinemann
Projeto de Arquitetura Paisagística:
GAP – Gabinete de Arquitetura Paisagista
Francisco Caldeira Cabral
Elsa Matos Severino
Projeto Luminotécnico:
Afaconsult
Eng. Raul Serafim
Empreiteiro:
SOMAGUE – Engenharia
EDIFER – Construções
Saiba mais em www.cm-cascais.pt e www.estorilsolresidence.com.
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