O inverno não tem de ser necessariamente cinzento. Com um pouco de trabalho, conhecimento e criatividade, conseguimos ter algumas surpresas agradáveis durante esta época mais escura do ano.
Existe uma enorme variedade de bolbos que dão flor por esta altura (final do inverno e primavera), e a tendência é escolhermos aqueles mais comuns, com flores mais vistosas, como as tulipas, os narcisos, jacintos, amarilis, iris, crocus, entre outros. Contudo, estes bolbos, para além de geralmente serem mais dispendiosos têm, também, condições de cultivo mais exigentes.
Por outro lado, temos os bolbos silvestres (frésias, alliuns, oxalis, sparaxis, ixias), muito mais económicos e fáceis de cultivar. Não são propriamente bolbos para cultivo em vaso, visto as suas flores serem mais modestas, mas quando cultivados em consociação, e em grande escala, formam maciços surpreendentes.
O maior inconveniente da utilização de bolbos silvestres, ou outro tipo de plantas silvestres é, muitas vezes, o carácter invasor que estas apresentam. São plantas que se dispersam com muita facilidade e rapidez, pelo que há que pensar bem nos sítios onde as queremos colocar.
Neste momento, estas são algumas das bolbíferas que florescem pelo parque:
Oxalis purpurea, Oxalis pes-caprae, Sparaxis bulbifera e Allium triquetrum. Esta última, pela sua beleza e diversas utilizações, foi a escolhida para compor este artigo do mês de março.
Allium triquetrum L.
O Allium triquetrum, por cá conhecido como “alho selvagem” ou “alho bravo”, pertence, atualmente, à família Amaryllidaceae, tem origem no Mediterrâneo e é uma espécie naturalizada nos Açores, nas ilhas de São Miguel e São Jorge.
É uma herbácea perene, que cresce entre os 18 e 50 cm e floresce durante o inverno e primavera. No verão as folhas morrem, mas ficam sob o solo os bolbos e bolbilhos com as reservas necessárias para que, no outono seguinte, voltem a crescer novas folhas, começando assim um novo ciclo da planta.
A sua propagação pode ser feita por semente, ou vegetativamente através da separação das plantas e da plantação dos bolbos e bolbilhos.
Para controlar a dispersão desta planta, há que evitar utilizar solo das zonas onde esta se encontra, principalmente durante o verão, altura em que não são visíveis as plantas, e os bolbos, bolbilhos e sementes estão presentes em grandes quantidades.
É uma planta de maneio simples, uma vez estabelecida dispensa cuidados acrescidos, mas que tem preferência por zonas mais sombrias e húmidas.
A espécie Allium triquetrum, para além da sua utilização como ornamental pode, também, ser utilizada em culinária. Toda a planta é comestível e tanto as flores como as folhas e os bolbos têm um sabor intenso a alho. As flores e folhas ficam muito bem em saladas, sopas, e os bolbos e bolbilhos podem ser cozinhados da mesma forma que cozinhamos o alho comum. Podem, também, ser transformados em picles.
Carina Amaral Costa, com 29 anos, é natural da Ilha de São Miguel, Açores.
Concluiu, na Universidade dos Açores, uma licenciatura e mestrado em Agronomia, e desempenha as funções de Eng. Agrónoma no Parque Terra Nostra desde 2012.
Colabora com o Portal do Jardim dando largas ao gosto pela escrita e pela partilha de conhecimentos.
Promete, mensalmente, relatar o seu quotidiano num dos parques mais ricos a nível botânico, abordando conteúdos sobre plantas, técnicas de jardinagem utilizadas, problemas fitossanitários e respetivos tratamentos. Todavia, e perante tamanha diversidade existente no local onde trabalha, os conteúdos a abordar são ilimitados.
Obrigado mais uma vez por partilhar o seu conhecimento. Está ótimo.
Obrigada Luisa.
Finalmente, obtive, aqui, informação consistente sobre uma planta que prolifera no meu quintal, com sabor a cebola e cujas folhas, quando quebram e ficam meladas, as galinhas apreciam (espertas!). Trata-se, então, do Allium triquetrum! Espero sobreviver ao projetado uso culinário, para contar o resto da história… Obrigado e parabéns, pela página, pela Natureza, pelos Açores…
Obrigada Arlindo. Fico contente que o artigo lhe tenha sido útil e não tenha receio em degustar o Allium triquetrum. Eu já o fiz várias vezes e sobrevivi para contar a história 😉
Ps: As oxalis também são comestíveis.