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Congresso «Jardins do Mundo»: Da Utopia à Realidade

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Fotos: Portal do Jardim

O Congresso Internacional «Jardins do Mundo: Discursos e Práticas» teve lugar no Centro de Congressos da Madeira, de 9 a 12 de Maio de 2007, conseguindo reunir académicos dos quatro cantos do Mundo que durante este período se debruçaram sobre o Jardim, numa perspectiva totalmente interdisciplinar e inovadora.

José Eduardo Franco

José Eduardo Franco

Foi há dois anos que se iniciou o processo de organização deste congresso, que nasceu «no quadro de um grupo que, na Universidade de Lisboa, se tem interessado pelo estudo dos jardins», como nos explicou José Eduardo Franco, coordenador-executivo e também historiador e prolífero autor, que demonstrou, mais uma vez, a sua já reconhecida capacidade de organização de eventos desta ordem, aliás elogiada por inúmeros congressistas. A escolha do lugar, a Madeira, também conhecida como «Ilha das Flores, ou Orquídea do Atlântico, Ilhas dos Amores, Ilha do Paraíso», foi imediata e de óptima coordenação com as instituições regionais. O nome do congresso adveio da designação dada pelos Ingleses a esta ilha: O Jardim do Mundo.

 

[b]«Não é o Artifício que corrige a Natureza. A Natureza é o protótipo da Arte.»[/b]
Pedro Calafate (Faculdade de Letras da UL)
 

O objectivo do evento era reunir individualidades do meio académico e, durante quatro dias, “injectar” novas perspectivas sobre o Jardim, enquanto conceito, elemento social, literário, científico ou até metafísico. Daquilo que presenciámos e das opiniões que recolhemos junto dos congressistas, este objectivo foi atingido por completo. Aliás, foi este aspecto que conferiu ao congresso a sua grande importância, nacional e internacional. No sector dos jardins, onde as perspectivas de estudo vêm quase sempre das áreas mais óbvias, sejam da Arquitectura Paisagista, sejam da Horticultura, etc. foi aqui criada uma oportunidade de as complementar. «Estamos a estudar o jardim na perspectiva da Biologia, da Arquitectura, da História, da Simbologia, da Iconografia, da Engenharia, da Teologia, etc.», afirmou José Eduardo Franco, explicando este conceito que permitiu explorar ao máximo um tema tão rico, e com tantas possibilidades de se reflectir em inúmeros outros sectores da sociedade e da vida humana.

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A interdisciplinaridade criou um elemento de acessibilidade ao conhecimento do jardim. Leigos na técnica da jardinagem ou do planeamento, entraram assim num «jardim do conhecimento», que deixou de ser algo tecnicamente proibitivo ou indecifrável. Pelo contrário, abriram-se até portas, sob pretexto do estudo do jardim, que permitem um enriquecer de noções mais generalizadas, nomeadamente sobre as crenças dos povos, ou sobre a forma de estar em sociedade.

[b]Elementos interdisciplinares[/b]
Como exemplo deste intercâmbio de saberes, houve vários elementos que foram referidos que demonstram que o estudo dos jardins não deve ser algo estanque. Graças a este congresso, ficaram os congressistas a saber que, por exemplo, não existe tradução nas línguas nativas da África sub-sariana para a palavra «jardim». Quem o afirmou foi o Pe. Muanamosi Matumona, da Universidade Agostinho Neto de Angola. O Pe. Matumona falou do Homem africano como profundamente religioso, utilizando a Natureza como meio de religação com o divino e assim, é-lhe estranho o conceito de compartimentar, ao estilo europeu, árvores e plantas que de outra maneira abundam à sua volta. Faz sentido. Em conversa posterior, Muanamosi Matumona não deixou de exprimir o seu contentamento por ter participado no congresso, tendo tido assim a oportunidade de melhor compreender esta perspectiva não-africana sobre o jardim e sobre aquilo que este representa no plano histórico-religioso e intelectual.

[b]«A palavra “Jardim” não tem tradução nas línguas africanas nativas. É um conceito estranho à sua visão do Mundo.»[/b]
Muanamosi Matumona (Univ. Agostinho Neto – Angola)
 

Noutra intervenção, de Ana Fernandes Pinto da Universidade Católica, soube-se também que os cortesãos Japoneses eram apreciados em função do grau de sofisticação do seu jardim.

Num plano cristão e pelas palavras de Sónia Talhe Azambuja da Universidade do Algarve, referiu-se que as plantas que florescem em Maio são vistas tradicionalmente como celebração da Virgem, um reflexo talvez da deusa Romana Flora, também adorada neste mês. Nesta mesma intervenção foi mencionado que até o fruto proibido bíblico, até hoje retratado como uma maçã, seria muito provavelmente um alperce, dado que a maçã não teria ainda sido introduzida na dieta à data da escrita dos textos do Antigo Testamento.

[b]«O Jardim é uma Utopia enraizada.»[/b]
Mendo Castro Henriques (Universidade Católica)
 

[b]«A Utopia»[/b]
Foi interessante observar como inúmeros congressistas se referiram ao lado utópico do Jardim. Desde o Éden à «Utopia» de Thomas More, passando pela Terra-Sem-Mal dos índios Guarani do Brasil, o jardim foi estudado e apresentado como uma construção ideal, utópica, como uma tentativa de restabelecer o elo de ligação com o Sagrado, com a Perfeição. Por exemplo, no caso particular dos ameríndios Brasileiros, que como os Africanos não partilham da noção de jardim como a compreendem os Europeus, têm mesmo assim referências mítico-religiosas ligando o conceito de Ideal e de Paraíso à imagem do Jardim.

Eduardo Lourenço

Eduardo Lourenço

Mendo Castro Henriques, professor na Universidade Católica, sintetizou esta associação afirmando que «o Jardim é uma Utopia enraizada», em muitas circunstâncias e tradições uma imagem do Centro do Mundo, da harmonia primordial.

 

Já Eduardo Lourenço, no seu estilo inconfundível, seguiu as pisadas de Thomas More e paulatinamente levou os congressistas a explorar a intrínseca ligação do Jardim à Utopia.

[b]As Homenagens[/b]
No quadro deste encontro científico, a Secretaria Regional de Turismo e Cultura da Madeira / Direcção Regional de Assuntos Culturais, a Câmara Municipal do Funchal e a Comissão Organizadora do Congresso «Jardins do Mundo» prestaram homenagem «a dois dos seus mais eminentes conferencistas», Eduardo Lourenço e Gonçalo Ribeiro Telles. (ver notícia completa [url=https://www.portaldojardim.com/pdj/2007/05/ribeiro-telles-e-eduardo-lourenco-homenageados-na-madeira]aqui[/url]).

[b]O Futuro[/b]
Tendo esta sido a primeira edição deste congresso, vários manifestaram o desejo de o ver repetido, quiçá anualmente. Entre eles destacam-se o próprio Presidente do Governo Regional da Região Autónoma da Madeira, Alberto João Jardim, o Presidente da Câmara Municipal do Funchal, Miguel Albuquerque. Em resposta ao repto, José Eduardo Franco afirma que «se houver condições no futuro gostaríamos de repetir».

Apercebendo-nos mérito claro deste empreendimento científico, e do seu sucesso, reconhecido unanimemente pelos participantes e demais instituições associadas, não podemos deixar de encorajar e apoiar futuras edições deste excelente e necessário congresso.

Terminamos com palavras de José Eduardo Franco: «restauremos novamente uma vida na Terra em forma de jardim, para que as nossas cidades possam ser jardins, ou possam estar intercruzadas com jardins, e onde não haja uma ruptura entre a cidade e o campo, entre a cidade e a Natureza, entre as partes humanizadas e o espaço físico, e onde possa haver uma relação de intercâmbio e interpenetração, isso é que permite um crescimento e uma vida equilibrada.»

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