A Exuberância dos Girassóis

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Esteja eu onde estiver, é-me difícil conceber em Agosto um jardim ou uma horta sem girassóis. Nos jardins das escolas onde trabalho, é sempre o girassol o grande conquistador do coração das crianças e portanto a planta ideal para introduzir as crianças à prática da jardinagem, existe na forma do girassol uma forte relação entre os desenhos que as crianças fazem do Sol e um sentimento de vitalidade, optimismo e alegria.

Hoje são conhecidas cerca de 70 variedades de girassóis, mais de uma dúzia de espécies anuais e perenes são apenas ornamentais, sendo as restantes utilizadas para fins vários.

[b]História[/b]

O girassol é uma planta de origem muito antiga; na América setentrional foram encontrados vestígios de flores que datam de 3.000 anos A. C. Muito antes de ter chegado à Europa o girassol era já utilizado pelos Índios das Américas. Os Incas, que eram grandes adoradores do Sol, escolheram-no como emblema, era também venerado pelos Aztecas que coroavam as sacerdotisas dos seus templos com flores de girassol e o utilizavam na prática de rituais.

Quando foi trazido para a Europa na primeira década do séc. XVI, pouco se conhecia acerca das suas propriedades, sabia-se sim que os Índios já extraíam o óleo das sementes, utilizavam a folhagem para alimentar o gado e extraíam também um pigmento amarelo das pétalas e outro roxo das sementes com os quais pintavam os corpos para assim absorverem o espírito desta planta tão estreitamente relacionada com o Sol. Quando os conquistadores espanhóis saquearam os templos Incas encontraram girassóis trabalhados em ouro maciço.

O primeiro girassol cultivado com sucesso na Europa foi nos jardins botânicos reais de Madrid em 1510 onde era considerado uma novidade exótica.

Foi imortalizado nas pintura de Van Gogh e adoptado por Oscar Wilde como emblema pessoal.

À medida que se foi espalhando pela Europa foram-se investigando as suas propriedades e usos medicinais e descobriu-se que um dos seus componentes, a inulina, era muito efectiva no tratamento da asma

Na Rússia, onde é hoje plantado em grande escala, as folhas são utilizadas para aliviar problemas de bronquite, tosse e até mesmo malária.

[b]Constituintes[/b]

O heliotropismo do girassol ([i]Helianthus annuus[/i]), fazem dele um potente acumulador de energia solar, electromagnética que em conjunto com os seus componentes o tornam num valioso alimento-remédio. É composto por vit. B1, B2, PP, B6, D e E, ácido fólico, inositol, colina, biotina, ácido para-aminobenzóico, ácido patentoneico, inulina, proteínas, hidratos de carbono, ferro, fósforo, cálcio, iodo, magnésio, cobre, sódio e flúor.
O óleo de girassol de extracção a frio é uma das melhores gorduras alimentares.

[b]Propriedades[/b]

As sementes são anti-nevrálgicas. O óleo de girassol ajuda a combater o colesterol mantendo as artérias desobstruídas. Uma infusão feita com as flores é um óptimo carminativo (actua na expulsão de gases intestinais). Uma decocção feita com as sementes tem propriedades diuréticas e febrífugas. As sementes mastigadas são altamente nutritivas e ajudam a digestão.

[b]Na culinária[/b]

Utilizam-se as sementes no fabrico de pão e biscoitos ou para juntar às saladas. Podem utilizar-se ainda os botões das flores por abrir que têm um sabor semelhante à alcachofra, tanto os botões como as pétalas são deliciosos fritos ou em pratos de massa. Os botões, pétalas e sementes são comestíveis e ficam lindos quando misturados nas saladas verdes ou vermelhas.

[b]Na cosmética[/b]

O óleo é bom para amaciar o cabelo e era já utilizado pelos Índios para esse fim. É também um excelente óleo base para massagens, ao qual se podem juntar algumas gostas de óleo essencial de alfazema, gerânio ou outro.

[b]Na tinturaria[/b]

O Índios Hopis utilizavam as sementes para obter um pigmento azul brilhantes roxo ou preto com os quais tingiam os seus tecidos, cerâmica e pintavam o corpo. Hoje em dia ainda são utilizadas as pétalas para obter um pigmento amarelado.

[b]Nas hortas[/b]

É utilizado como sebes e quebra-vento, mas atenção, pois o girassol cria à sua volta uma zona não fértil. O girassol e a batata exercem um efeito inibidor mútuo, também se dá mal com feijoeiro de trepar. Mas sabe-se que se dá bem com o milho e os pepinos. Gosta de bastante água e solos bem estrumados. São muito procurados por abelhas e pássaros, que são, aliás, um bom indicador de quando as sementes estão maduras. Para evitar que estas sejam todas debicadas, poderá envolver a flor num tecido de gaze fino, deixando algumas a descoberto para alimentar os pássaros. À medida que a cabeça do girassol vá ficando mais pesada poderá beneficiar de um suporte, ou por vezes, basta juntar três ou quatro pés, e atá-los entre si.

[b]Curiosidades[/b]

As fibras do caule já foram utilizadas no fabrico de tecidos, papel e cestos. A medula no interior do caule, que é mais leve que a cortiça, já foi utilizada no fabrico de coletes salva-vidas.

Algumas variedades foram desenvolvidas para extracção de óleos para usos industriais, no fabrico de detergentes, tintas e lubrificantes.

Fernanda Botelho

FERNANDA BOTELHO nasceu em Tojeira/Sintra em agosto de 1959.
Aos 18 anos viaja para Londres onde estuda antroposofia e plantas medicinais e pedagogia Montessori.
Fez o curso de guia de jardim botânico com a Alexandra Escudeiros e gostou tanto que repetiu no ano seguinte.
Apaixonada por jardins botânicos, é frequentadora assídua de Kew gardens. Absorve o que vê, fotografando e escrevendo.
Publica anualmente desde 2010 agendas de plantas medicinais, três livros infantis “Salada de flores” “Sementes à solta” e “Hortas aromáticas”. “As plantas e a saúde, guia de remédios caseiros”. É colaboradora do programa Eco-escolas desenvolvendo projetos de plantas medicinais e hortas sustentáveis nos espaços escolares com professores e alunos.
É convidada regular da RTP 1, organiza passeios botânicos e dá workshops sobre plantas medicinais.
Blogue Malva Silvestre.