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Palácio dos Marqueses de Fronteira, um espaço de excelência que preservou a sua identidade ao longo dos séculos

Texto: Catarina Gonçalves  -  Fotografia: Catarina Gonçalves

O Palácio foi construído por D. João Mascarenhas, 1º Marquês de Fronteira, por volta de 1670, nobre e militar português.  2º conde da Torre, foi elevado a primeiro donatário e 1º Marquês de Fronteira, pela lealdade demonstrada na crise que culminou com a abdicação de Afonso VI de Portugal e a subida ao trono de Pedro II de Portugal.

Atualmente é propriedade da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, na pessoa de  Dom Fernando de Mascarenhas,  Marquês de Fronteira sendo a  sua residência permanente o palácio e jardins que visitámos.

Vista para o jardim formal da biblioteca

Vista para o jardim formal da biblioteca

O nosso trabalho  tinha como objetivo principal os jardins mas de acordo com o nosso anfitrião, Dr. Filipe Benjamim Santos, “a casa e  jardim são indissociáveis e não fazem sentido uma sem o outro”.

Fomos saber como se pode ter um espaço destes em plena cidade de Lisboa e como é possível  a sua sustentabilidade.

Vista para o Tanque dos Cavaleiros

Vista para o Tanque dos Cavaleiros

“Quem gere um espaço desta natureza em pleno centro da cidade e que ao longo dos últimos 40 anos teve que lidar com  a pressão urbana tem que pensar que o fundamental é o equilíbrio do mesmo. Todas as soluções aqui assumidas são soluções de compromisso não podemos esquecer que na década de 60 só se vislumbrava o Hospital de Santa Maria e que agora temos prédios praticamente a toda a volta, e isso influencia tudo”.

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Segundo o nosso anfitrião foram plantadas árvores nos limites do espaço para fazerem cortina mas  não é possível criar uma envolvência natural á velocidade desejável, as árvores precisam de tempo para se desenvolverem.

“Aqui não restauramos, ao invés, preservamos e conservamos, não queremos retirar a patine do tempo seja nos muros ou nas peças de estatuária, nos azulejos, no palácio e jardins. Os muros foram consolidados mas mantêm as suas curvaturas que atestam a sua antiguidade. Há 25 anos foram feitas intervenções de fundo que eram inevitáveis mas que não estão á vista. Quando intervimos no património não nos limitamos a pensar só no património físico, o facto de o ambiente transmitir bem-estar e uma boa energia tem que ver com a forma como intervimos. Quando chegamos a um jardim restaurado muito bonitinho, arranjadinho, pintado de fresco onde tudo está perfeito acabamos por não conseguir apreender a sua identidade, deixou de ficar percetível e é isso é o que não temos aqui”.

Terraço

Terraço

Este espaço é considerado Monumento Nacional precisamente porque mantém a sua traça original, mantém os jardins, o palácio as hortas e a mata onde está tudo bem definido e tudo se deve também ao atual Marquês de Fronteira e ao facto de ser um visionário com ideias muito concretas sobre o que quer para todo este património que está na família desde sempre.

Tanque dos Ss e Casa do Fresco

Tanque dos Ss e Casa do Fresco

“A preocupação é manter essas identidades conscientes de que sendo uma casa do séc. XVII temos que ser por uma lado conservadores mas como estamos em pleno séc. XXI também temos que ser inovadores e é no equilíbrio destas duas forças que está o segredo”.

“O maior problema atualmente é com a escassez de água. Até 2004 havia água com fartura todos os dias do ano e há 8 anos a esta parte começou a escassez e a água começou a desaparecer”

Tanque dos Cavaleiros

Tanque dos Cavaleiros

Os espaços verdes são mantidos com um único jardineiro (ao contrário de outros tempos onde toda uma equipa trabalhava em permanência, a casa chegou a ter 80 empregados) e alguns tarefeiros contratados pontualmente. Existe também um programa de acolhimento de jovens (na altura da nossa visita estavam duas jovens francesas) que todos os anos vêm para aqui durante cerca de 1 mês trabalhar, são jardineiras e vêm para aprender, são o equivalente em França aos alunos provenientes das Escolas Profissionais mas têm uma ética de trabalho impressionante, recebem uma bolsa e aqui é dado o enquadramento e a estadia.

A sustentabilidade do espaço passa pela receita de bilheteira com as visitas ao palácio e jardins, pela organização de alguns eventos e claro pela Sociedade Agrícola e Agro-Florestal em Ponte de Sor ligada á produção da cortiça.

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“As visitas têm horas predefinidas, o espaço não permite uma elevada capacidade de carga mas quem nos visita pode permanecer com demora, visitar a casa e jardins com à-vontade, a casa não é museu, os tapetes podem ser pisados e as cadeiras usadas, o espaço tem vida e é acolhedor. Há quem se sente a ler ou a dormitar nalgum banco abandonando-se por momentos a ouvir os pássaros”.

Galeria dos Reis

Galeria dos Reis

Breve História e Descrição

A construção do Palácio tem uma base quadrada e com torres em dois dos seus cantos, apesar de algumas especulações o nome do arquiteto está envolto em mistério.

O prolongamento da Galerias dos Reis juntamente com a chamada ala do século XVIII, perpendicular à fachada Norte do Palácio, foram mandados edificar pelo 5º Marquês de Fronteira, entre 1770 e 1780, com o objetivo de transformar o Palácio de uma residência de Verão numa residência permanente para a família, depois da Casa da Rua das Chagas ter sido inteiramente destruída, por ocasião do Terramoto de 1755.
O Jardim Formal, cuja dimensão é aproximadamente de 67m por 58m é limitado a Poente, Norte e Nascente, por 3 muretes com azulejos; os muretes Norte e Nascente têm floreiras na sua parte superior, e o murete Poente, um pouco mais alto que os anteriores, tem uma balaustrada que separa o terraço, adjacente à fachada Nascente da casa, do Jardim Formal, exceto ao centro, onde se desenvolve uma escadaria que liga estes dois espaços; a Sul, é limitado pelo conjunto formado pelo Tanque dos Cavaleiros e Galeria dos Reis. Os painéis de azulejos do murete Poente, paralelo à fachada Nascente da casa, representam os Quatro Elementos, os Deuses/Planetas, conhecidos na época, e duas Constelações. Os painéis de azulejos a azul, branco e manganés do murete Norte representam os Signos do Zodíaco e os do murete Nascente, análogos aos anteriores, representam os Meses do Ano.
No espaço definido por estes limites encontramos quatro grandes conjuntos de canteiros de buxo dentro de cada um dos quais se inscrevem quatro outros conjuntos que desenham quartos de cada grande conjunto.

onte da Carranquinha

onte da Carranquinha

Nos cantos do jardim e de cada lado de cada uma das quatro entradas dos caminhos principais há pedestais de pedra sobre os quais se erguem no total, doze estátuas em chumbo.

O Jardim de Cima ou Jardim de Vénus está dividido por um murete com floreiras, do prolongamento do século XVIII da Galeria dos Reis, que se situa a Sul do Jardim e está num nível ligeiramente superior àquele. No interior do jardim, há canteiros de buxo e várias árvores, cuja plantação, na sua maioria remonta a finais do século XIX. Trata-se pois de um jardim ensombrado e mais resguardado que contrasta com o aspeto aberto e ensolarado do Jardim Formal. Tudo indica que este jardim fosse predominantemente feminino, até porque o brasão que se encontra na fachada da Casa do Fresco é o de D. Madalena de Castro, I Marquesa de Fronteira.

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A Casa da Água ou Casa do Fresco é uma edificação, sensivelmente, com o formato exterior de um cilindro vertical inteiramente revestida de azulejos de padrão a azul e branco. A fachada tem um arco que dá acesso ao seu interior; de um lado e outro do arco, na parte inferior há dois painéis de azulejos de brutesco, representando figuras híbridas; na parte superior encontramos um embrechado que desenha figuras geométricas cujo desenho é feito com embrechados, formados por pedras, conchas, pedaços de vidro e porcelana chinesa, quer em pedaços, quer inteira. Até à cúpula, as paredes são inteiramente revestidas de azulejos, que em cada um dos nichos pequenos representa uma árvore com pássaros, diferentes de nicho para nicho e, nos respetivos assentos, representam mascarões. No centro dos três nichos grandes há uma fonte, na qual a água sai através de esculturas.

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A Horta do Palácio Fronteira está ainda por recuperar, recuperação que tem sido atrasada pela falta de água que se tem feito sentir.

Ao fundo do terraço adjacente à fachada Sul da casa há uma fonte chamada, Fonte da Carranquinha, sendo a sua taça em mármore semelhante ao da fonte central do Jardim Formal e o seu alçado, pois, ao contrário das outras, está adossado ao muro que separa a Poente este terraço do Jardim de Vénus formado por um conjunto ornado com embrechados.

Jardim do Laranjal

Jardim do Laranjal

Jardim do Laranjal
A mais recente adição aos jardins do Palácio foi o Jardim do Laranjal, encomendado pelo 12º Marquês de Fronteira Dr. Fernando Mascarenhas, projetado pela arquiteta paisagista Cristina Castel-Branco e pela equipa ACB Arquitetura Paisagista, os painéis de azulejos foram desenhados pelo mestre Eduardo Nery. A construção foi efetuada pela EJR sob a direção do Eng.º João Ribeiro com os apoios financeiros EEA Grants e coordenação da A.P.J.S.H.. Tendo sido inaugurado em Julho de 2010. Constatámos no entanto que o elemento água é um fator primordial neste jardim pelo que devido ao facto dos lagos estarem vazios perdeu-se o impacto desejado.

Destaque:

Objetivos da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna

Os fins da Fundação são os estabelecidos no art. 4º dos estatutos:

1 – a) cuidar do seu património material;

b) cultivar o seu património cultural;

c) promover a investigação a criação artística e a formação cultural.

2- Entende-se por património material da Fundação, o conjunto designado por Jardins e Palácio dos Marqueses de Fronteira, assim como todos os bens móveis ou imóveis de sua propriedade, presente ou futura.

3 – O património cultural a cultivar pela Fundação é, por ordem de prioridades, o seguinte:

a) o património cultural corporizado no seu património material e o relativo à família que o construiu e preservou, a cuja história está indissoluvelmente ligado;

b) o património cultural português e de influência portuguesa, o europeu e o da humanidade em geral.

Mais informações:

A Fundação disponibiliza um conjunto de espaços, em regime de exclusividade, no interior do Palácio no Terraço ou nos seus jardins, onde se podem realizar diversos tipos de eventos.

O Palácio e os jardins estão abertos quer a visitas turísticas quer a visitas de estudo dispondo de uma loja onde se encontram à venda alguns produtos relacionados com o Palácio e a Fundação.

www.fronteira-alorna.pt

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4 Comments

  1. Vítor Ribeiro 23 de Julho de 2014

    Fantástico artigo. Parabéns!

    Responder
  2. Jose Santos Veiga 23 de Julho de 2014

    Coisa maravilhosa conhecia-o por fora mas nunca imaginei, que tivesse tanta beleza no seu interior.

    Responder
  3. Eliane ESCH Guimarães 24 de Julho de 2014

    Adorei o Palácio , gostaria de poder visitá-lo.
    Obrigada

    Responder
  4. Luis Peixoto 5 de Julho de 2017

    Gostaria de visitar o Palácio. Digam-me se está aberto ao público

    Responder

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