A propagação de cameleiras é alvo de curiosidade por muitos dos que nos visitam e muitas são as confusões existentes sobre o assunto.
Na cameleira a propagação pode ser feita de forma sexuada, através de sementes, ou assexuada, por propagação vegetativa. Sendo a cameleira uma planta bissexuada, a fertilização dos óvulos pode ser feita dentro da própria flor, ou por outro lado, entre flores de plantas diferentes através da polinização entomófila e/ou anemófila. Geralmente as plantas resultantes de ambos os processos de fertilização dos óvulos, não têm interesse floral.
Por processos de hibridação, nos quais a polinização é controlada e é feita entre espécies diferentes, podem-se obter plantas com características novas e diferentes ao nível da folha, flor ou até mesmo, maior adaptabilidade a condições edafoclimáticas diversas.
Assexuadamente as cameleiras podem ser propagadas através de processos como a enxertia, estacaria, mergulhia ou alporquia. Técnicas mais avançadas como a micropropagação, em laboratório, também se tornam cada vez mais frequentes.
Em termos comerciais, a estacaria caulinar é o processo mais prático e frequente, visto que permite a obtenção de plantas novas exatamente iguais às plantas originais de onde foram retiradas as estacas. No parque, recorremos a esse método de propagação para a espécie Camellia japonica.
Estacaria
A estacaria é um método importante de propagação porque proporciona a manutenção do genótipo desejado e a antecipação da primeira floração, visto que por via seminal as cameleiras só começam a entrar em diferenciação floral cerca de 6 a 7 anos após a sementeira.
Na propagação vegetativa por estacaria, vários são os fatores que influenciam o processo de rizogénese. São eles, a época de colheita da estaca, o tipo de substrato utilizado, a aplicação ou não de reguladores de crescimento, a temperatura e rega.
Em relação à técnica de colheita, as estacas devem ser colhidas da parte terminal dos ramos do ano, de preferência de plantas saudáveis e que produzam flores com os atributos desejados.
A fase fenológica aconselhada está compreendida entre a paragem de crescimento com diferenciação dos gomos axilares até ao início da floração. Assim, a recolha das estacas pode ocorrer desde Junho até aos meses de inverno, como Janeiro e Fevereiro.
Quanto mais tardia for feita essa recolha, mais avançado será o grau de lenhificação/maturação, e mais difícil será a emissão de raízes adventícias.
A temperatura considerada ideal para o sucesso do enraizamento está entre os 25o -28oC, e a humidade entre os 60 e 80%, sendo a rega por nebulização a que garante uma maior humidade relativa do ar na zona das estacas. Se fizermos a estacaria no inverno, mesmo que em estufa, a utilização de um sistema de aquecimento aumentará as nossas probabilidades de sucesso e diminuirá o tempo de enraizamento.
O substrato utilizado no enraizamento poderá ser totalmente mineral (ex: areão, perlite, vermiculite) ou conter, também, uma parte orgânica. Essa parte orgânica poderá ser uma turfa ou um solo proveniente da compostagem de restos vegetais. Ter em atenção que a utilização de um substrato exclusivamente mineral diminui a probabilidade de ocorrência de possíveis infeções com fungos nas estacas mas, por outro lado, aumenta as necessidades em água e obriga a que as plantas sejam transplantadas logo após o seu enraizamento. As estacas devem estar num local em que a luz solar não seja direta.
Efeito da aplicação de hormonas de enraizamento (auxinas) na rizogénese
Tal como nos humanos, em que as hormonas são fundamentais para o bom funcionamento do corpo, também as plantas produzem hormonas essenciais ao seu crescimento e desenvolvimento. As auxinas são hormonas vegetais que promovem e controlam o crescimento celular diferencial. A sua produção dá-se em maiores quantidades nas zonas de crescimento ativo, como meristemas apicais caulinares, gemas axilares e folhas jovens, contudo, também pode ocorrer nas folhas mais adultas. A deslocação da hormona ocorre, através do floema, no sentido do local onde a hormona é produzida para os restantes locais da planta, nomeadamente do ápice caulinar para a sua base, local de maior concentração. Se o caule for cortado, as auxinas irão acumular-se junto ao corte e favorecerão a indução de callus para formarem tecido radicular. Esta é a razão porque estacas mais jovens enraízam melhor.
As hormonas sintéticas, hoje em dia facilmente conseguidas em granjas ou lojas da especialidade, aumentam a concentração de auxinas junto à base da estaca e por consequente favorecem o desenvolvimento mais rápido de raízes.
Preparação das estacas
As estacas devem ser colhidas de manhã e o procedimento na preparação do material vegetativo consiste na realização de um corte em bisel na base de todas as estacas, sempre abaixo de um nó. As estacas podem ter um comprimento médio de 8 a 12 cm e possuir 1 a 2 folhas na extremidade apical. Em cada folha corta-se cerca de metade da superfície foliar, de forma a reduzir a perda de água na estaca por transpiração.
Posteriormente todas as estacas (os 2 a 3 cm da base) devem ser inseridas num fungicida cerca de 5 minutos, de modo a prevenir fusarioses.
Após a aplicação do fungicida, as estacas devem ficar expostas ao ar durante alguns minutos para secar. Repete-se o procedimento utilizando a solução hormonal líquida ou em pó e coloca-se a estaca no substrato.
O tempo de enraizamento dependerá muito das condições existentes, mas poderá demorar cerca de 3 a 4 meses. A melhor forma de verem se as estacas estão enraizadas é levantarem o vaso ou tabuleiro de forma a verificar a existência de raízes ou então tentarem puxar devagar a estaca e se esta demonstrar alguma resistência, muito provavelmente já terá enraizado.
Não se iludam com o crescimento/desenvolvimento dos gomos vegetativos laterais durante o primeiro ou segundo mês, porque estes não significam que as estacas já tenham enraizado.
Nota: A Camellia japonica é a mais fácil de se propagar pelo método da estacaria. Espécies menos comuns como a Camellia reticulata, Camellia sasanqua, Camellia nitidissima, entre outras, não são tão fáceis, sendo a enxertia o método mais utilizado nesses casos.
Carina Amaral Costa, com 29 anos, é natural da Ilha de São Miguel, Açores.
Concluiu, na Universidade dos Açores, uma licenciatura e mestrado em Agronomia, e desempenha as funções de Eng. Agrónoma no Parque Terra Nostra desde 2012.
Colabora com o Portal do Jardim dando largas ao gosto pela escrita e pela partilha de conhecimentos.
Promete, mensalmente, relatar o seu quotidiano num dos parques mais ricos a nível botânico, abordando conteúdos sobre plantas, técnicas de jardinagem utilizadas, problemas fitossanitários e respetivos tratamentos. Todavia, e perante tamanha diversidade existente no local onde trabalha, os conteúdos a abordar são ilimitados.
Muito útil, explícito, muito bom.
boa tarde gostei muito de ver e aprender como enraizar camelias nuca fiz nenhuma em estaca ja prodi muitas de sementeira vou aproveitar os conselhos muito obrigado
plantei duas estacas de figueira, por gostar muito de ficos, num vaso. Será que vai enraizar e dar frutos? Que adubo devo de usar para ela enraizar, e se possível onde encontrar, para comprar. Muito obrigada desde já. Um abraço.
Sra. Maria de Fátima, confesso não estar muito à vontade com multiplicação de figueiras, mas sim, estas podem ser multiplicadas por estaca e, em princípio, se colheu bem as estacas e se estas têm boas condições de humidade e temperatura, deverão enraizar e dar frutos. Poderia ter utilizado uma hormona de enraizamento na altura que fez a estacaria para ajudar no crescimento de raízes e existem, também, bioestimulantes que ajudam no desenvolvimento de raízes. Não devo citar marcas, mas poderá encontrar esses produtos numa loja de plantas/produtos agrícolas perto de si. Na loja, peça para falar com algum técnico e explique-lhe o que pretende. Cumpts.
Excelente!
Tudo de bom.
Cumpts,
Carlos Silva
Ponta Delgada
Açores
Parabéns pelo artigo em assunto. Contudo apelava a sua opinião da preferência de hormona de enraizamento em pó ou em gel , na aplicação de árvores frutificaras? Obrigado…
Atentamente,
José Leal
Tenho um gosto especial por camélias. Tenho alguns exemplares. Li com muito interesse e gosto este artigo que é, sem dúvida, muito útil e claro. Tenho interesse em saber mais sobre as técnicas e épocas mais indicadas para realizar enxertia em camélias.O tema é referido. Gostava que fosse desenvolvido. Obrigado.