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Lusoflora 2020 com palestras de qualidade

Teve lugar nos passados dias 28 e 29 de fevereiro mais uma edição da Lusoflora em Santarém no espaço CNEMA. Numa organização da APPP-FN (Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais) e para além do espaço de exposição que contou com a presença de mais de 70 empresas, promoveu ao longo de dois dias interessantes conferências e workshops.

Tó Romano

Cidades Verdes & Floridas – Cidades Sustentáveis” foi o tema das conferências do dia 28 que ao longo do dia contou com intervenções de Tó Romano que continua com o seu sonho de Florir Portugal (evadream) e a contagiar as populações de Norte a Sul e ilhas para não deixarem de ter as flores e plantas nas suas vidas. Nos últimos 5 anos tem contado com envolvência de várias autarquias para levar este sonho/ideia a todo o Portugal.

Engº Paulo Palha

Seguiu-se a intervenção do Engº Paulo Palha da Associação Nacional de Coberturas Verdes que focou a importância das coberturas verdes no espaço urbano. “Temos as cidades a invadir o ambiente natural e é imperativo termos vegetação nos espaços urbanos, só ela permite trazer os serviços ecossistémicos que precisamos. Dependemos da biodiversidade, de insetos polinizadores e isso pode ser dado pelas coberturas verdes, por termos telhados vivos que nalgumas situações sejam também jardins. Claro a ideia não é substituir os jardins de proximidade mas aumentar os espaços verdes usando os telhados que não tem qualquer utilidade.
Existem soluções que permitem a sustentabilidade de sistemas de drenagem urbana. Só para termos uma ideia 10 cm de altura de substrato têm a capacidade de reter 90% da precipitação no Verão e 75% no Inverno. Falamos de água doce que pode ser reaproveitada. Para já não falar da redução da poluição do ar ou sonora, promoção da biodiversidade e criação de nichos ecológicos, poupança energética…
Finalmente, as coberturas verdes estão já no programa do XXII Governo Constitucional onde é referida e incentivada a instalação de fachadas e coberturas verdes.
A vegetação deve ser obrigatória e deve ser considerada em todos os projetos e construção, tendo em conta também esta situação, foi lançado recentemente pela ANCV o primeiro Guia Técnico de Coberturas Verdes. É um manual de máxima importância para cidades mais sustentáveis, municípios mais informados e projetistas mais capazes.

Arquiteta Leonor Picão

Durante a tarde a arquiteta Leonor Picão do Turismo de Portugal elaborou sobre a “Estratégia Turismo 2027 – Metas de Sustentabilidade”. Promover a utilização dos espaços verdes e dar prioridade aos mesmos. Sensibilizar todo o sector do turismo e formar. Focou na exigência que devemos ter quanto a um turismo de qualidade. “O turismo é muito importante para a nossa economia tem que ser bom para quem visita, mas também para quem aqui vive.”.
Focou ainda a importância do Turismo de Natureza que é o que melhor se enquadra quando falamos de Turismo Sustentável.
Elaborou também sobre importância das Normas portuguesas dos serviços turísticos, nomeadamente no âmbito do Sistema Português da Qualidade foi criada a Comissão Técnica de Normalização para o Turismo – CT 144, a quem cabe definir os referenciais de qualidade para as atividades turísticas no domínio dos serviços.

Vereador do Ambiente da autarquia de Braga Engº Altino Bessa

De seguida foi o Município de Braga,que marcou presença com o seu Vereador do Ambiente Engº Altino Bessa com uma intervenção subordinada ao tema “Braga – 1ª cidade portuguesa na Green City Tool”
Neste âmbito é uma das autarquias com o selo Braga Florida dentro do projeto de Tó Romano.
O turismo procura cidades mais verdes e, se certificadas por bons desempenhos, ainda melhor.
A autarquia tem uma Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas (EMAC) e está a trabalhar nisso afincadamente.
Focada na Natureza e Biodiversidade tem uma rede de 26 percursos pedestres num total de 280 km.
É uma cidade muito dinâmica tendo publicado o Guia Verde de Braga que conta com toda a oferta natural disponível. A existência de BioSpots com informação pedagógica sobres a espécies existentes quando caminha pelo Parque de São João da Ponte ou ao longo da ciclovia que acompanha o Rio Este permite ficar a conhecer a biodiversidade local em termos de fauna e flora.
Desde os répteis aos anfíbios, passando pelas plantas é possível conhecer quais as espécies que povoam estes locais e que, muitas vezes, passam despercebidas.
O objetivo é: dar a conhecer a biodiversidade, mas também alertar para as plantas invasoras.
O Projeto Rios (www.projectorios.org) visa a participação social na conservação dos espaços fluviais, e, pela metodologia que utiliza, promove a curiosidade científica e implementa o método científico experimental, através da recolha e registo de informações e dados geográficos, físico-químicos, biológicos, eventos históricos, sociais e etnográficos, contribuindo assim para a melhoria do espaço estudado e da qualidade fluvial global.
Projeto Florestar Braga com mais 15 000 árvores plantadas nos últimos 5 anos.
As hortas urbanas são já 30 000 m² em 650 talhões.
Quinta Pedagógica só com espécies autóctones, em 16 anos registou mais de 427 000 visitantes, preparada para deficientes e idosos.
Ciência Andante e os Braga Explorers são outros dos projetos pedagógicos desenvolvidos e para atrair os mais novos.
Lançamento de biotrituradores para uso público e assim diminuir as queimadas no distrito de Braga.
As boas práticas a pensar nos aqui vivem e nos que visitam.
Sobre:
Green City Tool é plataforma da União Europeia que permite a avaliação das políticas implementadas no âmbito do desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida dos cidadãos europeus.
A Comissão Europeia lançou esta iniciativa de modo a constituir uma ferramenta de avaliação e benchmarking para as cidades europeias. Esta iniciativa consiste numa fonte de informação e de consulta para todas as cidades que desejam desenvolver mais conhecimento e partilha sobre como se podem tornar mais verdes e sustentáveis.
Para tal, a ferramenta possui vários recursos flexíveis permitindo às cidades demonstrarem os seus desenvolvimentos nos 12 tópicos disponíveis e comparar os seus resultados com outras cidades europeias, incluindo cidades que manifestaram o seu interesse em se candidatarem à Capital Verde Europeia ou ao Green Leaf Winner.
O processo de avaliação das cidades passa por uma pontuação de 1 a 10 em cada tópico exigido pela plataforma, nomeadamente: Qualidade do Ar, Mobilidade, Energia, Adaptação às Alterações Climáticas, Natureza e Biodiversidade, Ruído, Governança, Água, Mitigação às Alterações Climáticas, Inovação e Crescimento Verde, Uso do Solo e Resíduos.
Após um levantamento das políticas desenvolvidas nos últimos anos por parte das organizações do universo do Município de Braga, foi permitido o registo na plataforma com sucesso. A demonstração dos resultados, dentro dos critérios que a Comissão Europeia avalia, apontou para uma classificação de “Excelente” aos tópicos da Mobilidade, Resíduos, Uso do Solo e uma classificação de “Bom” aos tópicos de Mitigação às Alterações Climáticas, Ruído, Adaptação às Alterações Climáticas, Qualidade do Ar, Governança e Água.
A par da cidade de Braga, constam nesta plataforma cidades como Gent, Bélgica (cidade finalista da Capital Verde Europeia para 2020 juntamente com Lisboa), e até a cidade de Vaexjoe, na Suécia, cidade que pretende ser neutra em carbono até 2050.

Arquiteto Paisagista Jorge Cancela

Antes da mesa redonda foi ainda a oportunidade de ouvir o Arquiteto Paisagista Jorge Cancela, presidente da APAP que focou o tema “Cidade em transição. Da destruição a bastião da biodiversidade, de problema a solução das alterações climáticas, de consumidor a produtor alimentar”. Uma visão algo otimista e de como devemos pensar diferente.
Grandes desastres também criam grandes mudanças
Os problemas que existem são da nossa relação com o habitat. A Natureza vive bem sem nós, nós não vivemos sem ela. Se interiorizarmos isto sabemos que temos que mudar formas de estar.

Existem em todo o mundo exemplos de acontecimentos complicados e que dão depois origem a reações que apontam para o caminhos certo .
O Dia Zero que ocorreu no início de 2019 na Cidade do Cabo foi palco de situação inédita. Com quase 4 milhões de habitantes e a possibilidade real do dia em que nem mais uma gota de água potável sairia pelas torneiras. Um local de maravilhas como a Table Mountain, destino nº1 na lista de muitos turistas, pode ficar famosa por ser a primeira grande cidade do mundo a ficar sem água.
Daqui resultou o colocar em prática um racionamento de emergência, com a restrição de 50 litros diários por pessoa.
Esta situação de emergência acabou por ter um impacto positivo, com investimento em criação de fábricas de dessalinização para tornar potável a água do mar, projectos de colecta de águas subterrâneas e programas de reciclagem de água.
Não há dúvida de que as crises obrigam a uma mudança nos padrões de consumo da água, e agora é difícil imaginar voltar aos dias em que todos eram muito irresponsáveis no uso do recurso mais precioso do mundo. Sem água, não pode haver vida.

Como muitas outras cidades, Pequim e Copenhaga, com inundações urbanas mais frequentes devido ao aumento da cobertura impermeável e às mudanças climáticas. Na sequência destas problemáticas grandes investimentos estão previstos para manter a resiliência. Ambas as cidades empregam abordagens alternativas baseadas na retenção e detenção no local de escoamento de águas pluviais. No entanto, quando há uma situação de emergência com fortes chuvas, as duas cidades dependem fortemente de conceitos convencionais que envolvem túneis profundos para descarga rápida. As soluções alternativas aplicadas tendem a ser mais baseadas em engenharia, como tanques subterrâneos em Pequim e praças de descarga e detenção em Copenhaga.
No entanto se transformarmos estas cidades em cidades esponja estamos a transformar a cidade numa infraestrutura verde com capacidade para absorver as águas da chuva, canalizá-la e reutilizá-la.
Os Jardins de Chuva estão cada vez mais na ordem do dia, verdadeiras instalações de bioretenção são uma das práticas para a tratar do escoamento de águas pluviais.
Há que repensar materiais mas somos inteligentes o suficiente para sermos criativos nestas matérias e ter soluções para o presente/futuro.
Também aqui e na zona metropolitana de Lisboa temos bons exemplos de problemas que se transformaram em soluções, sendo um deles Parque da Várzea e toda a frente ribeirinha em Loures, numa área de 2000 hectares.
O objectivo claro foi o de garantir neste território os usos do solo que melhor compatibilizam as funções de produção agrícola com as de conservação da natureza e biodiversidade, de regulação ambiental, de identidade cultural e de recreio e lazer da população, através das seguintes ações:
Controlo de cheias e adaptação às alterações climáticas;
Restauro ecológico de linhas de água, conservação de outros habitats e proteção da biodiversidade;
Apoio à agro-silvo-pastorícia, incluindo as costeiras e as zonas de interface agro/urbanas;
Proteção e divulgação do património cultural;
Instalação de rede de caminhos pedonais e clicáveis, zonas de estadias e miradouros;
Promoção da vivência do parque pela população através do desenvolvimento de conteúdos, ações e atividades.

Outros exemplos a Ribeira da Laje em Sintra, Praça de Espanha, Corredores Verdes….
Introduzir Biodiversidade nas cidades é muito importante.
Resumindo as vantagens das árvores em espaços urbanos, seja pela energia, qualidade do ar, pela redução de CO2, redução do escoamento de água e até pelo valor que conferem aos espaços urbanos, do que estamos à espera?

Mas o dia ainda não terminou e a mesa redonda que se seguiu foi bastante concorrida. O tema foi pertinente e com pontos de vista algo diferentes: “Plantas em espaços públicos: Plantas autóctones x plantas melhoradas-Várias perspetivas”
Contou com a presença de Dr. Jorge Capelo do INIAV; Engª Ana Paula Carvalho da DGAV; Engº Paulo Carmo do ICNF; Engº Ladislau Silva dos Viveiros Casa Grande e Engº João Gomes em representação da Sigmetum.
Passaporte fitossanitário e a bactéria Xylella fastidiosa estiveram na ordem dia. Esta bactéria já detetada noutros países europeus, nomeadamente em Itália e Espanha chega a Portugal no início de 2019 por via de plantas ornamentais, pelo que foi várias vezes reforçada a noção da importância das plantas serem provenientes de viveiros e produtores certificados para que possa existir um controlo. Ainda não existe tratamento eficaz para este problema que pode atacar oliveiras, citrinos, videiras, fruteiras, loendros, entre outras plantas, incluindo ornamentais.
Mas resumindo, as autóctones e as melhoradas devem ser usadas de forma complementar.
De um modo geral todos se renderam ao painel e focaram que o que foi debatido é de extrema importância. Dito por Jorge Cancela, “…prosseguir com o debate e arranjar um grupo de trabalho que possa trabalhar de forma sistemática todas estas matérias e que a APAP está disponível para colaborar”.
Muito importante: passar os conhecimentos de forma estruturada a quem projecta, ao público,a quem está num viveiro, aos técnicos e aos alunos. A formação é essencial.

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