Existe ainda muita confusão, ignorância, e pura e simplesmente um mau aconselhamento acerca das plantas invasoras, mas este é um tema que vale a pena investigar, e é fascinante ver como algumas plantas se aproveitaram de nós, seres humanos, e da nossa ânsia em experimentarmos nos nossos jardins o cultivo de plantas de outros países. Este é um problema particularmente difícil nas zonas de clima mediterrânico, constituindo a causa de muitas paisagens danificadas e da perda de grandes áreas de habitats de plantas nativas. As espécies exóticas invasoras são uma das principais ameaças à biodiversidade em todo o mundo, e calcula-se que custem à sociedade europeia mais de 12 mil milhões de euros por ano. O número de espécies em causa é variável, e aumenta todos os anos.
Até à data, calcula-se que mais de 670 espécies de plantas exóticas tenham sido introduzidas em Portugal (continental), o que corresponde aproximadamente a 18 % da flora autóctone. Atualmente, cerca de 80 destas espécies são consideradas invasoras ou potencialmente invasoras. A maioria das espécies, contudo, só podem ser encontradas como plantas ornamentais e em sistemas agrícolas ou florestais, e não demonstram, até agora, um comportamento invasivo. Muitas plantas geralmente cultivadas em jardins pertencem a esta categoria, e não são consideradas um problema.
As espécies exóticas tornaram-se de tal modo familiares que podemos considerá-las como espécies nativas. É frequente deixarmo-nos atrair pela sua beleza, e por vezes passam simplesmente despercebidas por entre tantas outras espécies. No entanto, algumas são inimigos silenciosos que estão a invadir os ecossistemas e a ameaçar as espécies naturais que vivem na mesma área – estas são plantas invasoras. Temos de parar a sua disseminação!
A legislação portuguesa (Decreto-Lei nº 565/99), promulgada em 1999 e portanto não inteiramente atualizada, enumera cerca de 400 espécies de plantas exóticas introduzidas em Portugal e, destas, 30 são classificadas como espécies invasoras. Isto significa que é ilegal disseminar, vender comercialmente ou utilizar em programas de plantação qualquer das 30 plantas enumeradas na legislação.
Pode-se consultar aqui a lista de plantas consideradas invasoras, e cuja venda ou cultivo é ilegal: https://invasoras.pt/pt/especies-invasoras-portugal
O que é, então, uma planta invasora? Trata-se de uma planta que aparentemente parece ter sido “naturalizada”, mas que originariamente é de outra região do mundo. Reproduz-se livremente em grandes quantidades e numa área muito extensa, afastada da planta-mãe. Estas plantas podem cobrir áreas muito vastas, ameaçando a restante vegetação e, por conseguinte, alterando substancialmente os ecossistemas naturais existentes.
Uma planta nativa é, por definição, uma planta espontânea e natural da região que habita, e vivendo apenas dentro dos limites de reprodução natural da planta. As áreas que se encontram mais ameaçadas pelas plantas invasoras são principalmente as comunidades vegetais de plantas naturais frágeis, tais como as que se encontram nas dunas e regiões costeiras. Estas áreas são geralmente ricas numa diversidade de plantas adaptadas a condições muito específicas. Infelizmente, muitas áreas protegidas estão a ser invadidas por plantas invasoras portadoras de semente, tais como as acácias e a erva-das-pampas – invasoras resistentes e estáveis que toleram as condições extremas dessas áreas.
É possível que já tenha algumas destas plantas invasoras no seu terreno ou no seu jardim, mas poderá não se aperceber do dano causado pela distribuição de semente das suas plantas, uma vez que são disseminadas por uma área muito vasta. Se visitar a costa oeste algarvia poderá ver touças invasoras de erva-das-pampas (Cortaderia selloana) junto às estradas e no cimo das falésias. Não se aproxime muito destas plantas, pois a extremidade de cada folha é tão cortante como uma lâmina! São extremamente perigosas para crianças e animais. Um lança-chamas não conseguirá matá-las – ouvi dizer que algumas pessoas obtiveram algum sucesso utilizando grandes quantidades de sal, mas tal poderá envenenar o solo por muito tempo! Não precisará de ir até à costa oeste para ver maus exemplos da utilização destas plantas, pois algumas empresas de paisagismo estão a cultivá-las na Quinta do Lago, em Vale do Lobo, nos jardins do Algarve e na berma das estradas.
As bermas das estradas junto às encostas inferiores de Monchique também estão cobertas por árvores da espécie Acacia dealbata (mimosas), que seguem igualmente os cursos de água e as ravinas húmidas, uma vez que a semente foi disseminada ao longo destas vias. A paisagem encontra-se coberta pelas flores amarelas em Fevereiro/Março, mas estas árvores formam agora uma espécie de monocultura que sufocou por completo a restante vegetação, incluindo até os sólidos e grandes canaviais de cana-comum (Arundo donax), que geralmente habitam essas áreas. Esta espécie também é considerada invasora.
A equipa do projeto INVADER, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, publicou informações atuais no seu site. Tal faz parte de um enorme esforço internacional para divulgar informação de qualidade sobre este importante tema.
A invasão biológica por espécies exóticas é um processo que tem aumentado em Portugal e ocorre em todo o mundo, em proporções alarmantes. Em questão está a biodiversidade global e os serviços ecossistémicos que sustentam a vida no nosso planeta. E, no entanto, o problema mais grave é sermos nós os causadores do problema, muitas vezes sem darmos conta disso. Temos de aprender a identificar estas espécies, de modo a compreendermos o que representam e a fazermos o possível para não agravar o problema.
Em Portugal, muitas espécies que hoje se comportam como invasoras foram introduzidas no passado com finalidades que há muito deixaram de ser relevantes, tais como o controlo da erosão das dunas (por ex. a Carpobrotus edulis ou chorão), na estabilização de encostas e produção de madeira (por ex. a Acacia dealbata), na produção de taninos (por ex. a Acacia mearnsii) e utilização em sebes (por ex. a Hakea salicifolia & H. sericea), no fabrico de corante alimentar (por ex. a Phytolacca americana), ou simplesmente para efeitos ornamentais (por ex. a Cortaderia selloana ou erva-das-pampas). Para além destas introduções intencionais, houve outras que ocorreram acidentalmente mas com consequências igualmente graves.
Os problemas causados pelas espécies invasoras são particularmente graves na medida em que estas espécies constituem uma ameaça que pode ser irreversível – por exemplo, após a reprodução, dispersão e subsequente adaptação, o controlo torna-se problemático e a erradicação muito difícil ou mesmo impossível em muitos casos. O Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra desenvolveu algumas estratégias tendo em vista o controlo e a destruição de algumas espécies invasoras. Por exemplo, a melhor forma de controlar a Acacia dealbata não é cortá-la, mas sim retirar-lhe a camada da casca exterior em redor do tronco principal até uma altura de cerca de 90 cm. O Centro organiza mesmo fins-de-semana especiais para que as pessoas com interesse na temática participem nestas atividades, o que inclui a recolha e eliminação de grandes quantidades da terrível Carpobrotus edulis no topo dos penhascos.
As plantas invasoras são uma das inúmeras ameaças à biodiversidade natural e especial de Portugal, mas todos nós podemos participar no combate a esta ameaça. Por favor tire algum do seu tempo para se familiarizar com a lista de plantas proibidas, procure alternativas e cultive de forma sensata para o futuro bem-estar desta parte tão especial da Europa.
A equipa do projeto INVADER, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, publicou informações atuais no seu site. Tal faz parte de um enorme esforço internacional para divulgar informação de qualidade sobre este importante tema.
Rosie Peddle
Um dos rostos bem conhecidos da APEJECM-Associação de Plantas e Jardins em Climas Mediterrânicos.
Esta Associação nasce a partir dum grupo de cidadãos com interesse na Horticultura, Jardins e Plantas que se desenvolvem de forma natural com a influência deste clima. Através da cultura, da educação, conservação e reconhecimento da importância do ambiente na vida quotidiana promovem o conhecimento sobre esta atividade.
Esta Associação é responsável pelo projecto Jardim Botânico do Barrocal e faz parte duma rede internacional www.mediterraneamgardeninginternational.org.
Para mais informações contacte mgapsec@gmail.com ou visite www.mgaportugal.org