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Buçaco – Floresta Exuberante

[img]https://www.portaldojardim.com/artigos/parquesjardins/bucaco280906/Bucaco_14.jpg[/img]

[i]Fotos: Vasco de Melo Gonçalves[/i]
Portas de Coimbra-Inscritas as duas bulas Papais

Portas de Coimbra-Inscritas as duas bulas Papais

A Tapada do Buçaco cobre as costas ocidentais da serra do mesmo nome no centro de Portugal, está a 25 km de Coimbra e 6 km da Mealhada.

Apesar de nos parecer insólito, há que reconhecer que no caso da Tapada do Buçaco, a Igreja Católica teve um papel decisivo na sua formação e um papel ecológico na sua preservação.
Não só pelo trabalho exaustivo dos monges Carmelitas descalços, que transformaram um espaço árido e sem graça numa floresta exuberante e rica em espécies provenientes de todos os lugares do mundo, como também pela Bula do Papa Urbano VII em 1643 que proibia o corte de árvores sob pena de excomunhão a todos os prevaricadores.

Já no século XVI esta floresta natural de carvalhos, pinheiros e lentiscos era um local de paz e de retiro para eremitas e homens santos.
Inclusive o papa Gregório XV promulgou uma bula datada de 1622 que castigava com a excomunhão as mulheres que entrassem no então deserto do Buçaco, defendendo assim o sossego meditativo desses homens.

Araucária Bidwiilli de 1866

Araucária Bidwiilli de 1866

Em 1628 os monges Carmelitas receberam estas montanhas e construíram um convento no seu interior que albergou grupos nunca superiores a 30 monges.

Estavam criadas as condições para o total empenhamento dos frades na criação desta floresta, tendo apenas como distração o que a própria natureza e o trabalho proporcionavam. Esta permanência durou até à sua expulsão em 1843, altura em que o quadro político do liberalismo teve como consequência a extinção das ordens religiosas e a expropriação dos seus bens.
Na sua condição de eremitas e ao longo de cerca de 200 anos, foi possível a pequenos grupos de monges o arranjo dos jardins, a construção de várias ermidas e pequenos locais de recolhimento, uma via-sacra de capelas barrocas, muito simples e pequenas decoradas com o detalhe naturalista em terracota representando cada uma delas uma cena da paixão de Cristo. Tal como no convento a base da decoração é precisamente o embrechado, ou seja, o calcetamento feito com pequenas pedras de cores contrastantes.

Pérgula do Palácio

Pérgula do Palácio

Todas as construções perfeitamente integradas nos cerca de 100 hect. que constituem esta floresta.

Ao fim de 80 anos de protecção papal a floresta era tão luxuriante que receberia o elogio dum cronista carmelita (1722) que citava a vegetação de vários arbustos de folha persistente como sejam, o loureiro português, o alfeneiro, o lentisco e a abundância de ervas aromáticas, designadamente a madressilva, a erva branca e o meliloto.
A tranquilidade monástica foi destruída com as guerras peninsulares em 1810 entre os exércitos combinado de Portugal e Inglaterra e as tropas de Napoleão.

Feto Arbóreo

Feto Arbóreo

À data da nossa visita e com muita pena apenas podemos vislumbrar parte destas construções originais. As pequenas capelinhas estavam em muito mau estado de conservação e o convento dos carmelitas descalços foi em mais de metade anulado pela construção, no final do século XIX, do actual Palácio do Buçaco conhecido então pelo Palácio da Montanha do Rei D. Carlos. Da autoria do Arqtº Luigi Manini, cenógrafo italiano, também autor da Quinta da Regaleira em Sintra, tem um estilo neomanuelino muito peculiar e como a sua construção se prolongou até 1907, o rei D. Carlos nem teve muito tempo para a apreciar a sua última obra.

Após esta introdução histórica sempre curiosa e que nos permite viajar e localizar no tempo, propomos-lhe que enriqueça algumas horas da sua vida com um passeio a pé por esta tapada. O tempo necessário serão cerca de 5 horas, os pés deverão estar bem calçados e confortáveis, a mochila deverá conter uma refeição e um cantil cheio de água. O chapéu na cabeça é importante e se tiver uns binóculos tanto melhor.

Hortense (hydrangea macrophylla)

Hortense (hydrangea macrophylla)

[b]Viagem botânica[/b]
Os 100 hect de floresta estão inseridos dentro do muro da floresta do Buçaco onde existem cerca de 11 portas de acesso. A Porta de Coimbra, que é a mais antiga datada de 1630, é actualmente um miradouro dada a sua localização mais elevada, não tendo acesso directo ao exterior. É neste local que se encontram inscritas na Pedra as Bulas Papais que à época da nossa visita precisavam urgentemente duma intervenção e restauro.
Outra porta curiosa é a Porta da Rainha construída em honra de Dona Catarina de Bragança aquando do seu regresso a Portugal, após a morte do seu marido o Rei Carlos II de Inglaterra.
Esta situação excepcional originou que posteriormente todos os visitantes mais importantes passassem por aqui para entrarem no Buçaco.

Pormenor da Vegetação

Pormenor da Vegetação

Como para acedermos à floresta das 11 portas temos que escolher uma optámos por vindos do Luso pela EN 235 entrar pela porta das Ameias.

A vegetação é luxuriante, tendo sido no Buçaco que foi introduzida a primeira colónia europeia do Cedro de Goa ou [b]Cipreste do Buçaco[/b] (Cupressus Lusitanica), em 1644 e que apesar do nome tem de facto a sua origem no México.
De folhagem escamosa, com cor azulada e de tamanho médio, tem frutificação muito abundante, é uma árvores de porte aprumado e pode atingir grande arborescência, estes ciprestes são os mais célebres devido à sua idade secular. São árvores que podem atingir os 25 m de altura.

Dirigimo-nos em direcção ao Vale dos Fetos pelos caminhos que se encontram bem definidos em toda a floresta, alguns em pedra outros em terra batida, uns mais estreitos outros mais amplos. Partindo da
estrada nacional mais ampla que vai dar a este vale encontramos duas árvores dignas de nota, a [b]Acácia Austrália[/b], muito robusta e de grande vigor vegetativo com as folhas simples de lâminas mais ou menos estreitas datada de 1860 e a [b]árvore do Ponto/Magnólia[/b] ou nome mais vulgar [b]tulipeiro[/b] que é uma espécie exótica da América do Norte, mas bem adaptada entre nós. Tem uma folhagem inconfundível, grande e com um a dois pares de lobos largos, mas truncada na ponta (como a cauda duma andorinha). Com a flor forma uma espécie de túlipa de pétalas alaranjadas e amarelo pálidas.

Porta das lapas

Porta das lapas

Após a passagem do lago que está integrado no Vale dos Fetos e onde devemos avivar por momentos os nossos sentidos pois o local é paradisíaco, avançamos ao encontro do [b]Rododendro[/b], da [b]Japoneira[/b], do [b]Eucalipto Floribundo[/b] e do [b]Feto Gigante[/b], o maior aqui existente. Após a passagem dum segundo lago vamos ao encontro do [b]Ulmeiro das Folhas Lisas[/b], do [b]Freixo Americano[/b] de 1882 e do [b]Freixo Flor[/b] que se encontra junto á escadaria da Fonte Fria que subimos até ao topo, após os 144 degraus que ladeiam uma queda de água e onde encontramos o [b]Aderno[/b].
Se ao invés de subirmos os degraus da Fonte Fria, optarmos por ir até ao fim do Vale dos Fetos e o contornarmos temos em cima da curva e antes de voltarmos para trás um exemplar belíssimo do [b]Eucalipto da Tasmânia[/b] de 1876.

Lago junto ao vale dos fetos

Lago junto ao vale dos fetos

Dirigimo-nos agora para os jardins do Palácio do Buçaco e Convento, actualmente um Hotel de luxo, onde encontramos mais espécies de igual importância como sejam o [b]Pinheiro da Índia[/b] de 1877, uma [b]Tília[/b], um [b]Cedro do Atlas[/b], uma [b]Maclura[/b], um [b]Pinheiro Insigne[/b] e junto à entrada do hotel uma Araucária de 1866 com cerca de 15m de altura. Ao redor do Palácio podemos ainda encontrar um [b]Teixe[/b] de 1864, [b]Gliceneas[/b], [b]Picea do Himalaia[/b], [b]Pinheiro Americano[/b], [b]Erythrina[/b] e um [b]Abeto do Cáucaso[/b].

Existem para além dos pontos já enumerados outros centros de interesse na Floresta do Buçaco, nomeadamente a Cruz Alta, a uma altitude de 540 m e onde se abarca a paisagem em todas as direcções e até onde os nossos olhos alcançam.

A cascata bordejada por um exemplar de [b]Salisburia Adeantifólia[/b] e um pouco mais afastada uma [b]Sequóia sempre Verde[/b] de 1879 completam o cenário.

Se fizer esta visita não esqueça de solicitar no turismo do Luso ou na Recepção da Tapada o mapa correspondente, preciosa ajuda para se orientar neste espaço magnífico.

[b]Consultas efectuadas:[/b]
“Jardins de Portugal”, de Patrick Bowe e Nicolas Sapieha da Quetzal
À Descoberta de Portugal” das Selecções do Reader’s Digest
“Descubra Portugal-Beira Litoral” de José Couto Nogueira da Ediclube

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