O que é o chá? Não é mais do que uma bebida preparada pelo método de infusão da planta Camellia sinensis, conhecida por chazeiro. Esta planta é originária da China e Japão e está profundamente associada aos costumes locais, constituindo a sua preparação e consumo um verdadeiro ritual que atravessou gerações. Curioso o facto de que a bebida é conhecida no Ocidente muito antes do que a própria planta, sendo que, mesmo nos dias de hoje, é enorme a perplexidade quando alguém descobre que a sua bebida favorita é feita com uma planta muito parecida com a cameleira ornamental que tem no jardim!!!
No entanto, no nosso país muitas pessoas confundem o chazeiro com uma outra planta, designada por chá-bravo, chá-inglês ou planta-do-chá (Sida rhombifolia), planta introduzida e vulgar no norte e centro, com origem na América tropical, e com propriedades e sabor absolutamente distintos.
As restantes bebidas, também preparadas desta forma, devem ser designadas por infusões ou tisanas. A palavra chá refere-se normalmente a infusões de folhas, flores ou frutos de várias plantas, tais como camomila, tília ou cidreira, para além das próprias folhas da planta do chá. Entre nós é também muito popular o “chá de limão”, obtido a partir da casca desse fruto, uma espécie de panaceia nacional, com o poder de confortar!!!
Terão sido os portugueses que, no séc. XVI, trouxeram da China o chá, tendo-o popularizado pelos quatro cantos do mundo. Em Inglaterra o seu consumo intensificou-se rapidamente e, a partir de meados do séc. XVIII, o chá tornou-se a bebida de eleição de todas as classes sociais. Terá sido Catarina de Bragança a popularizar o consumo de chá na corte inglesa.
Associado ao chá existem verdadeiros detalhes preciosos da história recente: de forma a assegurar a procura exponencial, foram criadas frotas de veleiros muito velozes, chamados clippers, que tinham de aproveitar ventos favoráveis para cedo chegar à Europa, garantindo melhores preços para os seus carregamentos. As colónias inglesas na América adoptaram rapidamente o hábito de consumir chá, sendo famoso o incidente de Boston, em que os revoltosos atacaram e incendiaram barcos de chá estacionados no seu porto, como protesto contra uma subida de impostos decretada pela coroa inglesa, tendo este episódio contribuído para alimentar os movimentos contestatários que haviam de conduzir à independência destas colónias.
A sua cultura e tecnologia foram segredos bem guardados durante muitos anos, de tal forma que chegou a pensar-se no Ocidente que existiriam duas espécies diferentes, uma para o chá preto e outra para o chá verde. Ambos são obtidos a partir da mesma folha ou rebento, sendo que o chá verde não é fermentado, o chá preto é fermentado e existe outras formas, como o oolong, que é semi-fermentado. Hoje são exploradas diferentes variedades, tais como a Camellia sinensis var. sinensis e a Camellia sinensis var. assamica.
No século XIX a cultura foi introduzida nos Açores, estando concentrada na ilha de São Miguel, em duas explorações (Gorreana e Porto Formoso), estimando-se que a produção actual não exceda as 30 toneladas numa área de 30 hectares, sendo estas consideradas as únicas explorações de chá da Europa. A cultura foi tentada no Continente por várias pessoas, mas por vicissitudes várias, nunca chegou a prosperar. Inacreditável o facto de, comprovadamente o noroeste de Portugal ter condições extremamente favoráveis (talvez as melhores da Europa) à sua cultura e ainda ninguém o ter experimentado, recentemente. A prová-lo, a existência de milhares de cameleiras que povoam os jardins, algumas à centenas de anos, e até alguns exemplares de chazeiros, prósperos. O que comprova bem o actual estado da nossa agricultura, que também sofre por falta de inovadores…
A nível mundial, a cultura do chazeiro ocupa actualmente mais de 2,5 milhões de hectares, com uma produção de cerca de 2,5 milhões de toneladas anuais, e é uma das bebidas mais consumidas do planeta, com uma procura crescente à medida que cresce também a oferta de produtos derivados e se investigam e comprovam as suas inúmeras propriedades medicinais. Já são quase 5 da tarde, vai um chá?!!! Porque não…
LUÍS ALVES tem 36 anos, é do Porto. Lecciona em diversos cursos de jardinagem e espaços verdes, plantas aromáticas e medicinais, e foi orador convidado de diversas palestras sobre os temas. É técnico de Agricultura Biológica, escrevendo regularmente para revistas especializadas. Editou um DVD com um curso de PAM. Nos últimos 7 anos é agricultor e viveirista, produzindo em modo de produção biológico plantas aromáticas, medicinais, condimentares e flora espontânea autóctone, sendo também consultor especializado em jardinagem e espaços verdes. Foi galardoado com «1º Prémio “Agricultor sobresaliente en actividades innovadoras” 2008»