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Freixo, a grande árvore mítica dos celtas

Nesta Primavera precoce estão já muitas árvores cheias de nova e viçosa folhagem como é o caso do sabugueiro, da romãzeira e do salgueiro aqui do meu quintal.

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Outras, um pouco mais atrasadas como as tílias e os freixos começam agora a despontar, emergindo dos ramos de aparência seca e sem vida, novos rebentos, futuras folhas ou flores.

Muitos desses rebentos e folhas tenras são deliciosos e muito apreciados por alguns animais e também por humanos como eu que gostam de provar aquilo que a Natureza de forma tão generosa nos oferece a cada momento.

Uma das minhas árvores preferidas é o freixo, não apenas por nos presentearem com deliciosa folhagem tenra e nutritiva no início da Primavera mas também por muitas outras razões.

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História

Existem em Portugal várias lendas sobre terras cujos nomes estão relacionados com freixos “Freixo-de-espada-à-cinta” Freixial, Freixofeira, etc, algumas delas, relacionadas com D.Dinis que terá adormecido à sombra de um majestoso freixo. Durante o sono o espírito desta árvore ter-lhe-á revelado quais as diretrizes a traçar para o futuro reino de Portugal.

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Ainda hoje existe em Freixo de Espada à Cinta, junto à igreja matriz, um velho freixo venerado pela população que acredita ser a mesma árvore de que reza a lenda.

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Era uma das árvores principais nos cultos das antigas religiões pagãs. Sagradas do povo Celta mas também dos escandinavos e dos gregos.

Os gregos acreditavam que era a grande árvore universal pois as suas extensas e profundas raízes uniam a humanidade ligando o mundo dos vivos com o mundo dos mortos. Poseidon, deus dos mares, fazia também o culto desta árvore e as sacerdotisas dos templos gregos tomavam muitas decisões importantes na sua sombra.

Nas lendas vikings o deus Odin ter-se-á enforcado num freixo acreditando que assim atingiria a iluminação. As runas que são o oráculo das árvores utilizado pelos nórdicos eram gravadas em madeira de freixo.

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Para os antigos irlandeses existiam 5 árvores mágicas e protetoras da terra, três delas eram freixos e as outras duas eram o carvalho e o teixo.

Já os irlandeses atuais dizem que o bastão com que são Patrício, padroeiro da Irlanda terá expulsado as serpentes deste país era feito de madeira de freixo (ash).

As serpentes simbolizavam a deusa-mãe que como é sabido é rejeitada pela igreja católica.

A cruz celta usada tanto pelos irlandeses como pelos gauleses para proteger as embarcações, era esculpida em madeira de freixo, considerada uma das mais resistentes e ao mesmo tempo flexível, quase elástica.

Nas velhas crenças inglesas faziam-se passar as crianças doentes através de buracos ou fissuras de velhos freixos acreditando que isso as curaria. Era prática comum colocar um ramo de folhas de freixo para estimular a atividade onírica.

Não restam dúvidas de que o freixo sempre foi, e ainda é considerado uma árvore protetora.

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Descrição botânica e habitat

O freixo (Fraxinus sp) pertence à família da Oleáceas, onde se inclui também a oliveira.

Existem muitas espécies de freixos, sendo as mais comuns e mais conhecidas o F.excelcior ou freixo europeu, o F. ornus (freixo-de-flor) e o F.angustifólia ou freixo-comum. O Fraxinus angustifólia é o mais comum em Portugal, cresce um pouco por todo o continente em zonas húmidas, bosques, vales, solos férteis e de preferência calcários, sobretudo perto de linhas de água. É também cultivado em zonas urbanas devido à sua bonita copa e fantástica sombra apenas no Verão, já que é uma árvore de folha caduca. É de crescimento rápido e muito resistente à poluição. É oriunda da Europa não mediterrânica

Tronco ereto e nu, casca cinzenta e lisa que com o passar dos anos se vai tornando mais escura e gretando em linhas verticais. Ramos ascendentes de onde brotam flores nuas (sem cálice, corola, pétalas ou sépalas), em panículas de cor escura, arroxeada. As folhas são compostas e, sempre, com um número impar de folíolos sésseis (que se inserem diretamente no caule), verde escuras na margem superior e ligeiramente mais claras na margem inferior, surgem muito depois das flores, os frutos crescem em feixes pendentes, constituído por sâmaras de semente única de cor amarelo-acastanhado que ficam na árvore durante o Inverno dando-lhe um aspeto seco. Há freixos dioicos, apenas com flores femininas ou apenas masculinas e freixos monoicos (com flores masculinas e femininas na mesma árvore).

As raízes são muito profundas aprumadas e robustas.

Usam-se as folhas, seiva, flores e a casca dos ramos.

 

Constituintes e propriedades

Contém heterósidos, taninos, iridóides, cumarinas, flavonóides, mucilagens.

Em infusão, as suas folhas verdes ou secas são ainda muito utilizadas, sobretudo em Portugal para tratar problemas reumáticos, dores artríticas, retenção de líquidos, infeções geniturinárias, gota, edemas.

Por ser muito anti-inflamatória e adstringente, diurética e desintoxicante do organismo, é comum ser recomendada para tratar a obesidade, é ainda vasoprotetora e venotónica.

Com a sua casca pode fazer-se uma decocção cicatrizante e para tratar a febre tendo mesmo sido usada pelos antigos herbalistas ingleses para tratar a malária em substituição do quinino.

Como planta comestível, as suas folhas e sâmaras tenras são muito apreciadas sobretudo pelo gado caprino mas também pelos humanos, podendo ser consumida em saladas ou em picles.

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Usos da madeira

Na idade média era muito apreciada na construção de arcos e flechas. Ainda hoje é apreciada na construção de instrumentos musicais, raquetes de ténis, esquis e outros objetos que impliquem flexibilidade e resistência. É ainda apreciada como combustível nas lareiras pois a sua combustão é bastante limpa.

 

No jardim e na horta

Não é muito recomendado a não ser que tenha muito espaço pois como já vimos é uma árvore de grande porte sobretudo o F. excelsior.

Em Portugal existem vinte e um freixos classificados de interesse público.

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7 Comments

  1. Anabela ferreira 11 de Fevereiro de 2016

    Artigo muito esclarecedor no geral e em parcitular na parte que diz respeito a Portugal

    Responder
  2. Gilles Maddalena 2 de Agosto de 2016

    Aqui, na costa vicentina, entre o Norte do Algarve e o Sul do Alentejo, os “cajados” ( bastão do pastor de gado ) são sempre de freixo ! E são bons !

    Responder
  3. Toninha 3 de Novembro de 2016

    Adorei as informações sobre freixi. Pena que no Brasil não consigo encontrar.

    Responder
  4. maria jose nascimento santos 6 de Novembro de 2017

    Bom dia, eu preciso de folhas de freixo ( Fraxius excelsior), para uso pessoal, vc poderia me ajuda? ou mesmo me indicando onde posso encontrar essa arvore?
    Moro no centro de são paulo, obrigada!!

    Responder
  5. Alfredo Jorge Rocha 30 de Março de 2018

    Fernanda Botelho (permita-me que a trate assim) navegando na net sobre o tema florestação e árvores de crescimento rápido e espécies arbóreas indígenas em Portugal, deparei-me com esta sua publicação. E…como se costuma dizer, de facto o mundo é pequeno! Eu sou de 1948 e, praticamente desde que nasci, que frequento a Tojeira. Hoje não tanto, vivo em Castelo de Paiva e, infelizmente por razões familiares, não me tem sido possível deslocar-me a Lisboa e, consequentemente ao meu adorável Magoito e à Tojeira. Curiosamente acabei de saber que a minha filha mais velha é (aos fins de semana) sua vizinha, quando lhe enviei uma sms para lhe pedir que investigasse se alguém das relações dela a conhecia a si. Gostaria muito de poder falar consigo, por causa de projectos de florestação, com uma codicionante muito forte, infelizmente, pelo que se passou em junho e em outubro e, neste caso, aqui bem perto de mim, e que me está a determinar o perfil das minhas decisões, para erigir barreiras ao fogo, para além de tentar ultrapassar a habitual lamúria da floresta ser não rentável, lamúria esta que, infelizmente é um facto, se ela for tratada da forma tradicional e como “os nossos avós a tratavam”, razão pela qual estou, naturalmente!, a pensar fora do pinheiro e do eucalipto, tendo começado pela/o carvalha/o e sobreiro e, evoluindo nas minhas pesquisas, tomei já contacto com a paulownia. Mas vou pedir à minha filha, se existir disponibilidade da sua parte, para a contactar, e podermos assim, se também a isso estiver disposta, trocarmos algumas impressões. Antecipadamente agradeço-lhe a disponibilidade que puder dedicar-me. Os meus cumprimentos, Alfredo Jorge Rocha.

    Responder
  6. Luis Rodrigues 7 de Outubro de 2020

    Sra. Fernanda Botelho,
    Gostei muito do seu texto, conciso qb e muito entendido. Fiquei a saber q o freixo para além de não ser uma árvore economicamente interessante, merece todo o respeito histórico.
    Tenho um jardim com 1000 m2 de relva e preciso de colocar algumas árvores de boa sombra que não desenvolvam raizes à superficies. Gostaria que me informasse se o freixo responde a esta necessidade

    Responder
  7. Luis Rodrigues 7 de Outubro de 2020

    queria dizer “economicamente jnteressante”

    Responder

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