O trabalho compensa e, como tal, é altura de recolher muitos dos frutos do trabalho que tivemos durante a primavera. Sei que esta não é a forma mais original de começar este meu testemunho do mês de Julho, mas por vezes torna-se difícil fugir às frases feitas.
Este mês é minha intenção mostrar-vos um pouco do resultado daquilo que escrevi no mês de Maio sobre Sementeira de plantas anuais e ornamentais em geral.
Antes de começar a revelar o resultado final, relembro que após as sementeiras efetuadas nos meses de Abril e Maio, e antes de se iniciarem as plantações, foi feito todo um trabalho de preparação do solo no terreno daquele a que chamamos ‘O Jardim de Flores’.
A preparação do solo é fundamental para que as nossas plantações tenham sucesso. É importante que as plantas encontrem tudo o que necessitam para crescerem de forma saudável e nos brindarem com períodos de floração longos e viçosos.
Geralmente, após o inverno, o solo dos nossos jardins está mais compacto e repleto de infestantes. Daí que seja necessária a sua mobilização, de forma a descompacta-lo e a remover as infestantes. É também nessa altura que devemos aproveitar para enriquecê-lo com a adição de matéria orgânica que irá fornecer às nossas plantas, de uma forma gradual, os nutrientes que elas necessitam para o seu crescimento. Por cá, nós utilizamos muito o material resultante da compostagem que é feita com os restos vegetais do parque e recorremos, também, ao estrume de cavalo bem decomposto – um excelente fertilizante natural.
Todo o trabalho de preparação do solo e plantação de todas as anuais foi feito durante o final de Maio e início de Junho, sendo já possível desfrutar de muita cor. Contudo, será Agosto o mês da plena floração.
Na altura das plantações, tal como acontece quando trabalhamos com hortícolas, é importante ter um bom conhecimento das características das nossas flores anuais, nomeadamente a altura que podem atingir, o espaçamento que devemos deixar entre as plantas, a cor e textura tanto das flores como da folhagem, o tipo de exposição ao sol, necessidades em água e, sobretudo, a época de floração. Só depois de termos esse conhecimento é que podemos brincar com todos os elementos de forma a criar, de uma forma organizada e harmoniosa, um espaço repleto de cor e muita textura.
Devo alertar-vos para o facto de que muitas vezes as condições ideais que vêm descritas nos pacotes de sementes ou até mesmo nos livros, para determinadas plantas, podem não ser as condições mais adequadas ao clima onde está inserido o nosso jardim. Quando assim é, o importante é não desistir porque só com a experiência aprendemos a contornar a situação e a recriar, no nosso jardim, as condições ideais para o cultivo daquilo que queremos. Contudo, existem sempre algumas preciosidades que não conseguimos de todo fazer crescer ou manter e, nesses casos, o melhor mesmo é nos contentarmos em vê-las apenas nos jardins vizinhos.
No nosso jardim de anuais também se encontram muitas plantas bianuais e perenes que, geralmente, por terem um porte maior e serem mais robustas, acabam por quebrar um pouco a monotonia entre as anuais. Para além disso, no inverno e primavera, altura em que muitas das anuais já desapareceram, são as perenes que acabam por embelezar o nosso jardim.
Podemos até brincar com a introdução de hortícolas e frutícolas, muitas delas super-ornamentais, com flores lindíssimas, e que têm a mais valia de nos presentearem com alimentos frescos durante o nosso passeio pelo jardim.
Este ano introduzimos o chamado Feijão-de-espanha (Phaseolus coccineus), um feijão de trepar que produz flores vermelhas, muito atrativas, tanto para nós, como para os insetos.
Termino citando uma frase que me foi dada a conhecer recentemente por um grande amante da natureza, o meu amigo Ricardo Teixeira.
“O mundo não pode viver sem flores, e por isso elas nascem e desabrocham. Se olhos menos avisados passam por elas e as não podem ver, a traição não é delas, mas dos olhos, ou de quem os mantém cegos e incultos.”Miguel Torga, in “Diário (1943)”
Volto em Agosto com mais flores.
Carina Amaral Costa, com 29 anos, é natural da Ilha de São Miguel, Açores.
Concluiu, na Universidade dos Açores, uma licenciatura e mestrado em Agronomia, e desempenha as funções de Eng. Agrónoma no Parque Terra Nostra desde 2012.
Colabora com o Portal do Jardim dando largas ao gosto pela escrita e pela partilha de conhecimentos.
Promete, mensalmente, relatar o seu quotidiano num dos parques mais ricos a nível botânico, abordando conteúdos sobre plantas, técnicas de jardinagem utilizadas, problemas fitossanitários e respetivos tratamentos. Todavia, e perante tamanha diversidade existente no local onde trabalha, os conteúdos a abordar são ilimitados.
Faço minhas as palavras de Miguel Torga.
Obrigado Carina por partilhar connosco a sua sabedoria e o magnifico Parque Terra Nostra nos Açores, de visita obrigatória. Agosto é certamente um mês que recomendamos pela plena floração.
Obrigada Luisa!