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Confesso que apesar de ser uma amante de Sintra desconhecia este jardim notável e por motivos de trabalho, acabei por estar numa manhã de Domingo em pleno mês de Novembro a deambular pelas áreas do jardim que faz parte integrante do Palácio Nacional de Queluz.
Confesso também que sou fã de passeios na natureza mas numa ambiência de espaços mais selvagens e desordenados, dai que também fiquei surpresa por ser tão agradável passear no meio da geometria verde que este espaço contém. Mas o que é aqui deveras surpreendente e marcante é a estatuária, infelizmente com algumas peças ausentes para restauro.
Os projectos de casa e jardim mais extraordinários são aqueles em que a paisagem e a arquitectura se equilibram e Queluz consegue isso mesmo. Ao longo de 60 anos (tempo que durou a sua construção) arquitectos e escultores deixaram a sua assinatura e apesar das várias traças a harmonia mantém-se. Mas foi Jean-Baptiste Robillon que em 1757 e a pedido do rei D. Pedro III deixou a marca mais visível, tanto no Palácio como nos jardins e Queluz transformou-se na residência de Verão favorita da família real na segunda metade do século XVIII.
Os jardins superiores seguem o traçado “à francesa”. O primeiro denominado de Jardim Novo ou de Malta foi primitivamente um lago o que é perceptível pelos degraus envolventes. É uma referência à ordem de malta da qual o rei era Grão-mestre. Este jardim teve ainda a designação de Jardim dos Azereiros devido ás plantas importadas da Holanda em 1758 para a sua decoração.
O Jardim Grande ou Pênsil construído sobre o reservatório de água confina com o jardim de Malta a Leste e estão delimitados por uma balaustrada de pedra ornada de estátuas e pelo Pórtico da Fama (representa a fama heróica montada no Pégaso) de onde partem radialmente as avenidas do Parque.
Este pórtico flanqueado por dois grandes tanques marca o antigo eixo principal de acesso ao Palácio limitado a Norte pela Fachada de cerimónias e a Sul pela Grande Cascata.
Profusamente decorado com Lagos (Neptuno e Anfitrite) e pelos conjuntos escultóricos em pedra provenientes de Itália e Inglaterra, este jardim oferece todo um percurso mitológico a descobrir onde abundam os deuses e heróis da antiguidade clássica.
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O Canal de Azulejos é outra referência deste espaço e onde a família Real passeava de barco nas tardes de Verão.
O que de alguma forma também marcou o passeio foi o sentir o estado de degradação em que os jardins se encontram. Por um lado a falta de água por outro a falta de mão-de-obra qualificada e ainda a degradação das peças escultóricas.
Nas nossas investigações posteriores à visita conseguimos apurar de que está a ser levada a cabo uma grande obra de restauro e que tem que ver sobretudo com os sistemas de captação e distribuição de água.
Embora se tenham perdido ao longo dos tempos e por acção de toda a transformação da envolvência do Palácio e Jardins e apesar da Quinta Real de Queluz ser atravessada pelo Rio Jamor não dispunha à época de nascentes artesianas que fossem o garante dos jogos de água que
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sabemos terem existido nos lagos bem como o abastecimento de água potável ao palácio. Foi construído um complexo sistema de captação, condução, armazenamento e distribuição de água com o recurso a técnicas milenares. A responsabilidade desta obra foi Engenheiro mor do reino Manuel da Maia em 1752 e a solução encontrada foi a abertura de minas localizadas na envolvente bem como a construção de aquedutos que conduzissem a água até à quinta. Esta obra foi então bastante sofisticada e dispendiosa.
Durante o século XX foram dois os principais factores responsáveis pelas falhas no processo de gestão e conservação dos jardins, nomeadamente a diminuição de jardineiros e do abastecimento de água.
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A profissão de jardineiro implicava uma formação continuada, pessoas com diversas habilitações de acordo com os trabalhos e disponibilidade de tempo. O início do século operou alterações sociais profundas e esta era uma profissão considerada inferior. A expansão urbana em toda a área de Queluz que se converteu num subúrbio de Lisboa foi a causa directa da degradação do sistema hidráulico. A impermeabilização da bacia hidrográfica do rio Jamor, causada pela construção em massa e não planeada provocou a diminuição progressiva dos caudais das minas e a destruição de parte dos aquedutos. Nos anos 80 o sistema de abastecimento entrou em ruptura com graves prejuízos para a vegetação e conservação dos jardins.
Desde o início dos anos 90 os jardins do Palácio de Queluz adquiriram finalmente estatuto próprio enquanto espaços patrimoniais e a salvaguarda do património paisagista passou a ser uma prioridade. Toda a Quinta de Queluz passou a ser alvo de estudos e intervenção por parte da tutela tendo sido desenvolvidas várias acções primeiro para suster a degradação de todo o espaço e de seguida a resolução do abastecimento de água aos jardins incluindo estudo das águas do Jamor no sentido de saber teriam qualidade para a rega e utilização nos jogos de água. Concluiu-se que seria boa para o Canal de Azulejos mas a sua utilização para outros fins teria que passar por uma complexa reformulação do sistema de distribuição. A mina do Pendão seria a única ainda passível de restauro completo sendo no entanto insuficiente para as necessidades. Foram feitos dois furos de captação de águas subterrâneas sendo possível a partir desta altura recuperar o sistema de captação de água.
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Finalmente em 2003 foram concluídos os projectos de recuperação que incluíram a recuperação do sistema de captação, transporte e armazenamento e distribuição de água do século XVIII e ainda que a água captada nos furos fosse encaminhada para o Tanque do Miradouro localizado numa elevação fora dos muros do Jardim. Os circuitos de distribuição passam a funcionar em regime fechado (na origem era aberto) de forma a reduzir ao mínimo as perdas de água.
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Em 2002 a Associação World Monuments Fund propõe ao IPAAR a realização dum projecto conjunto para o restauro dos azulejos do Canal bem como de toda a estatuária dos jardins e o projecto foi posteriormente alargado aos jogos e água de forma a tornar mais coerente a intervenção.
Também é dada importância relevante á colecção de esculturas em chumbo (de tradição inglesa) da autoria de John Cheere, inglês cuja obra foi recentemente muito valorizada e técnicos ingleses especialistas nesta área serão responsáveis por este segmento do projecto.
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O que é importante frisar é que na realidade está aqui em causa a recuperação global e permanente deste espaço para as gerações vindouras. E mesmo que possa parecer demorado todo o processo de levantamento, estudo e execução, o que se pretende e é condição da WMF que seja efectuado um restauro sustentado e eficaz.
As espécies que sobreviveram aos anos de falta de água são escassas, algumas magnólias e uma mescla de árvores várias nos bosques. Sendo sobretudo um jardim ornamental é o buxo e as flores de canteiros a vegetação que agora impera nas zonas mais próximas ao Palácio. Toda a área envolvente aos jardins ornamentais e os pequenos bosques estão integrados num conjunto de avenidas formando um traçado complexo cujos cruzamentos foram decorados com fontes. Esta área entre avenidas esteve no século XVIII densamente coberta de limas e ulmeiros que se espera em breve poder repor.
[b]Horário de Abertura dos Jardins[/b]
Das 10.0h às 18.30h (Maio a Outubro)
Das 10.00h às 17.00h (Novembro a Abril)
Encerra ás 3ªs feiras e nos feriados 1 de Janeiro, Sexta-feira Santa, Domingo de Páscoa, 1 de Maio, 29 de Junho (feriado Minicipal) e 25 de Dezembro
Espectáculos da Escola Portuguesa de Arte Equestre de Maio a Outubro.
Concertos semanais diurnos e nocturnos
Informações – Palácio Nacional de Queluz Telefones 21 4350039 e
21 4363861
[b]Obras consultadas:[/b]
Património e Estudos vol 8 2005 Edição IPAAR
Jardins de Portugal da Quetzal Editores de Patrick Bowe
LUÍSA GONÇALVES é directora da Revista Tudo Sobre Jardins, revista trimestral que está na banca desde Agosto de 2007.
Colaboradora do portal do jardim desde o primeiro momento com alguns artigos de reportagem e trabalhos sobre jardins.
Sócia-Gerente da Editora Lobo do Mar, Lda. que detem para além do título Tudo Sobre Jardins; Anuário Náutico e Náutica Press.
Gostei muito, parabéns