Para quem não pode ter uma horta, por falta de espaço, por falta de tempo ou por qualquer outra razão, mas pretende trazer à sua mesa o melhor que a natureza tem para nos dar, livre de produtos químicos, surgem cada vez mais alternativas. No Norte do país, uma jovem empresária arregaçou mangas e, de quase nada, nasceu a Horta-à-Porta.
“Então a história da Horta à Porta começa quando um amigo meu matemático se mudou para Celorico de Basto com armas e bagagens para alugar um terreno e praticar agricultura biodinâmica. (A agricultura biodinâmica é um passo em frente da agricultura biológica, uma vez que incorpora não só as práticas desta mas também outras complementares). Ora, o Filipe Antunes começou a ter alguns produtos hortícolas, que vinha vender ao Porto, mas o tempo não lhe chegava para tudo e comecei eu, a seu pedido, a entregar os produtos dele aos seus clientes. Tudo isto começou em Maio de 2003. Os seus clientes eram 7, mas logo pouco depois, todas as semanas recebia telefonemas de novos clientes indicados pelos 7 iniciais. Uma vez que o Filipe não tinha grande variedade de hortícolas, comecei a procurar outros produtores que pudessem satisfazer os pedidos dos clientes que, em pouquíssimo tempo, já eram 20..
Assim, e utilizando inicialmente um antigo pombal com uma bela janela em casa dos meus pais onde coloquei uma balança e umas prateleiras, comecei a preparar cabazes de legumes e a levá-los aos clientes semanalmente.
Nessa mesma altura, tive conhecimento de que, como desempregada, podia apresentar um projecto de candidatura a uma ILE – Iniciativa Local de Emprego, para criar o meu próprio posto de trabalho, pelo que me dirigi ao IEFP do Porto Ocidental onde recolhi as informações necessárias e onde tive um atendimento absolutamente profissional. Estudei a legislação, frequentei 2 ou 3 sessões de esclarecimento e apresentei a minha ideia de fazer entrega ao domicílio de produtos biológicos ao responsável pelas ILE no IEFP. Este considerou que o projecto preenchia os requisitos necessários e, uma vez que a minha formação é a engenharia agronómica e não a economia ou a gestão, aconselhou-me a procurar uma empresa de gestores que preparassem a componente financeira do projecto (memória descritiva, indicadores financeiros, etc), sem a qual seria difícil ter a aprovação do projecto.
Os clientes continuaram a aumentar e do pombal com a grande janela com vista mudei para um anexo de 45 m2 também em casa dos meus pais. Aí, tenho condições fantásticas, pois posso usar água corrente de mangueira, tenho 2 grandes tanques em local fresco e ainda acesso a arrecadações para guardar caixas, etc.
Em Janeiro de 2004 assinei um contrato com o IEFP, assumindo o compromisso de levar avante o projecto nos 4 anos seguintes e recebi um financiamento para comprar uma carrinha frigorífica, uma balança profissional, colocar prateleiras e fazer algumas obras para conseguir obter condições térmicas adequadas aos legumes.
Só em 2006 é que registei a marca Horta à Porta, criei um site e coloquei publicidade na carrinha. Também me certifiquei como distribuidora de produtos biológicos.
Até aí, todos os clientes novos que me chegaram foi por intermédio dos anteriores, que passaram palavra. Provavelmente, também tive a fortuna de iniciar este trabalho numa altura propícia em que o mercado estava bastante receptivo, mas posso confessar-lhe que durante pelo menos 3 anos não pensei em mais nada 7 dias por semana. E algumas noites também, em que sonhava com montes, feitos de alho francês, brócolos e outros que tais…Agora, durmo mais descansada porque houve um grande avanço na oferta dos produtos, quer em termos quantitativos quer em termos qualitativos. Há maior oferta de produtores, com quem mantenho uma comunicação aberta e constante e uma relação de confiança. Tenho fama de ser chata mas boa pagadora, o que não é mau de todo, e sentimo-nos todos parceiros de trabalho, o que é muito bom.
Hoje tenho 90 clientes, uma colaboradora e muito trabalho. Para além de legumes, entrego fruta, carne, algumas especialidades e disponibilizo um serviço de consultas de nutrição. E é natural que outras ideias continuem a surgir. Gosto deste trabalho e da Horta à Porta. Permite relacionar-me com todo o tipo de pessoas, desde as empregadas que me recebem à porta, aos clientes que estão em casa e, com quem, de certa forma, naquele bocadinho semanal, mas uma semana após outra, ao tentar ir de encontro aos seus gostos ou necessidades, acabo por participar das suas vidas e histórias. Tudo através da alimentação que, afinal, é uma parcela importante da vida familiar.
Para além disso, é muito mais agradável trabalhar num segmento do sector agrícola que tem um objectivo não menos empresarial que a agricultura convencional mas que é consciente, em termos da qualidade do produto e da qualidade de vida em geral.”
Cristina Couto Soares
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gostava de saber qual a legislação para vender produtos da nossa própria horta!
Gosteimito das ideias e do desenrascanço da Cristina!
ola boa tarde
eu gostaria de saber se vem distribuir para Lisboa??
atentamente
Dite Gonçalves
Achei esta ideia muito boa. Tenho uma horta em castro d’aire viseu gostava de saber se estava interessada em produtos da minha horta. Agora tenho muita producao de tomata,corgete,pepino, feijao verde. Muita uva etc. Ou entao dar edeias como eu eide fazer. Obrigado. Espero uma resposta.