Na ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores, temos um dos mais importantes jardins de Portugal.
Texto: revista Tudo Sobre Jardins / https://www.tudosobrejardins.com / Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves
Raimundo Quintal, douturado em geografia e responsável pelo projecto de recuperação do Jardim José do Canto, foi o nosso guia nesta visita ao Jardim José do Canto. O projecto de recuperação dos jardins foi apresentado em outubro de 2013 e os trabalhos deram início em janeiro de 2014.
O palácio actual não é contemporâneo dos jardins, sendo que havia um projecto para uma casa a quando da implementação dos jardins que nunca chegou a avançar. O palácio actual foi construído por Augusto Athayde em 1950.
José do Canto (1820-1898) foi um homem rico, culto e amante da natureza. Profundo conhecedor dos segredos da botânica, autodidata que estabeleceu contactos com jardins botânicos e viveiristas de todo o mundo, a quem comprou, vendeu ou trocou plantas. O jardim era um espaço de experimentação com estufas próprias onde multiplicavam as plantas. Este jardim foi sempre um espaço pouco formal, é mais um jardim naturalista, sendo que a única formal é o roseiral que foi agora recuperado. A marca deste jardim são as suas árvores monumentais. Todo o projecto de recuperação teve como objectivo manter o jardim o mais fiel possível ao seu projecto inicial da autoria do arquitecto inglês David Mocatta.
Edmond Goeze (1838-1929), botânico alemão, ao serviço do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, realizou em 1866 uma missão em São Miguel. Impressionado com os “jardins encantadores que existem em Ponta-Delgada”, escreveu que “o jardim do sr. José do Canto é inquestionavelmente o mais rico de todos, possuindo talvez mais de 3.000 espécies. Nenhum dos jardins particulares, que tivemos ocasião de visitar na Europa, lhe pode ser equiparado. Deve porem melhorar muito ainda, como estamos convencidos, logo que o distincto proprietario voltar de Paris, onde se tem demorado (Goeze, p.42). Foi neste jardim que podémos estudar a vegetação dos paizes estrangeiros; foi d’elle tambem que trouxemos mais de 800 espécies, e ainda que nos não pertença agradecer tanta generosidade, estamos certos que o leitor nos desculpará de fazer aqui com toda a publicidade. Devemos agradecer tambem a Mr. Alexandre Reith, jardineiro em chefe, o muito que nos coadjuvou” (Goeze, p. 54-55).
No inventário inicial do projecto de recuperação havia de grosso mode cerca de 250 espécies presentes no jardim neste momento já ultrapassam as 380. Todo este processo de recuperação é bastante lento que tem contado com a ajuda de investigadores da universidade de Ponta Delegada. Durante a recuperação tem se vindo a descobrir vários poços de rega que funcionavam usando a força da gravidade para irrigar os canteiros, estes têm vindo a ser descobertos conforme se vai limpando os vários dos espaços do jardim. Estão também agora a trabalhar na zona de vegetação endémica, flora azorica. A tempo inteiro têm 2 jardineiros a trabalhar equipa que é reforçada por outros 2 por uma empresa externa durante as visitas mensais de Raimundo Quintal ao jardim que duram 8 a 10 dias.
O Jardim José Canto é um espaço de grande interesse paisagístico e botânico, povoado por árvores que impressionam pelo seu porte monumental ou pela sua morfologia singular: – árvores-da-borracha-australianas (Ficus macrophylla), pinheiros-de-damara (Agathis robusta), araucárias-de-bidwill (Araucaria bidwillii), melaleucas (Melaleuca linariifolia, Melaleuca styphelioides), turpentine (Syncarpia glomulifera) e eucaliptos (Eucalyptus camaldulensis, Eucalyptus delegatensis, Eucalyptus robusta), indígenas da Austrália; pinheiros-da-Nova-Caledónia (Araucaria columnaris), da Nova Caledónia e das ilhas Novas Hébridas; metrosídero (Metrosideros excelsa), da Nova Zelândia; canforeiras (Cinnamomum camphora), do Japão, Ilha Formosa e Malásia; Elaeocarpus decipiens, do Japão, China e Coreia; podocarpos (Podocarpus macrophyllus), do Japão e da China; magnólias (Magnolia grandiflora) e cipreste-dos-pântanos (Taxodium distichum), do Sudeste da América do Norte; azinheiras (Quercus rotundifolia), do Sul da Europa e do Norte de África; carvalhos-roble (Quercus robur), da Europa; tis (Ocotea foetens), da Macaronésia.
O Jardim Botânico José do Canto está aberto todo o ano, com exceção dos dias 1 de janeiro e 25 de dezembro.
Horário de Abertura:
Inverno (outubro – março): 09:00-17:00
Verão (abril – setembro): 09:00-19:00
No piso térreo do palácio funciona a “Residencial Casa do Jardim”, com 14 quartos, podendo os hóspedes usufruir de toda a riqueza paisagística e botânica. O Jardim Botânico José do Canto é membro do BGCI — Botanic Gardens Conservation International.
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