Jardins que são mais do que colecções de plantas, são viagens, são retratos de vivências e da procura por nós próprios. O design dos jardins orientais tem um conceito muito forte ligado à espiritualidade e ao papel do ser humano na natureza.
A arte do paisagismo e da jardinagem depende muito do contexto histórico e cultural de cada região. De uma forma geral os jardins históricos do ocidente são muito mais teatrais, com diversas esculturas e plantações bastante florais e coloridas enquanto nos jardins orientais a componente espiritual e de contemplação é uma prioridade, este elemento é parte integrante de qualquer conceito para um espaço exterior de jardim, todos os elementos têm um propósito e não se encontram no jardim meramente por acaso. Tipicamente estes jardins têm elementos que os caracterizam muito específicos, o bamboo, a ponte, as rochas, a água, algum tipo de caminho que simboliza a viagem de uma vida e a sua relação com a arquitectura.
Este artigo pretende ajudar a compreender um pouco estes conceitos nos jardins e não ser um guia de faça você mesmo para “autênticos” jardins orientais. Existem certos elementos que podem ser transportados e reinterpretados para um estilo próprio, resultando num jardim com um contexto específico muito diferente de um jardim em Quioto, por exemplo.
A China permitiu que o Extremo Oriente e, através da Coreia, invadisse o Japão. No ano de 1000 dC o Japão já tinha desenvolvido a sua própria arte, distinta da versão ritualística da arte Chinesa.
O típico jardim Japonês no início ficava a sul da habitação e consistia numa lagoa ou lago e com uma ilha. No extremo norte da lagoa encontrava-se uma colina artificial com uma cascata. Estes jardins estereotipados do período Heian (794- 1185 dC) mostram muitas semelhanças com os jardins Chineses da época.
As variações começaram na maneira de trabalhar as pedras e poda das árvores assim como a abordagem ao local, a criatividade começou a substituir a imitação no período Kamakura (1192-1333).
Outros jardins Japoneses podem também ter ou-tros estilos como o Kanshoh para jardins que são pensados para serem vistos da residência, jardins lagos que são vistos de um barco ou o Kaiyu-shiki que é um jardim de passeio, um jardim que é para ser apreciado numa sucessão de imagens à medida que se passeia num caminho que circunda o jardim, um exemplo famoso deste tipo de jardim é o da vila Imperial em Quioto, o Katsura.
O ideal é que todos os jardins estejam em sintonia com o contexto da paisagem onde se encontram inseridos, existem, no entanto, diversos jardins Japoneses com imenso sucesso fora do Japão, nomeadamente nos Estados Unidos da América é o caso do Japanese Tea Garden em São Francisco, Califórnia e o Portland Japanese Garden em O-regon e claro no Reino Unido, no Holland Park o jardim Quioto.
Os jardins Karesansui que podem ser apreciados em templos, são os chamados jardins Zen, jardins secos, pois ao contrário dos outros jardins o elemento água está apenas representado pelas ondulações na gravilha e não presente fisicamente, um estilo único no design de jardins, os jardins tem sempre como começo a sua relação com a arquitectura, com o edifício existente e de como é que o jardim se vê a partir desse elemento. Os monges dos templos usavam o acto de passar com o ancinho na gravilha para meditar, a concentração é fundamental porque alcançar a perfeição nas ondulações da gravilha à passagem do ancinho não é fácil, existe um movimento uma vibração que é demonstrada conforme a criatividade e inspiração, as rochas e pedras são representações de ilhas e o musgo é usado como cobertura do chão para recriação de florestas com arbustos fortemente podados para terem formas mais arredondadas. Normalmente estes jardins são para serem vistos apenas de um certo ângulo, de um local específico onde o visitante se senta a meditar.
Os jardins Tsukiyama têm um estilo muito próprio representam a paisagem natural fazendo os jardins parecerem muito maiores do que realmente são, colinas, rochas pequenas cascatas e pontes recriam uma paisagem complexa, uma pintura antiga dum ambiente de natureza japonês. Como a escala é tão pequena um monte de terra de 9 metros de altura representando uma montanha e um lago de 0,2 hectares, um braço de mar, a intenção é reproduzir o espírito e não as características da paisagem escolhida. A associação e o simbolismo desempenham assim um papel muito importante na criação e apreciação destes jardins. O redimensionamento das paisagens e do tamanho do jardim continuaram até a um ponto em que os jardins em miniatura foram feitos em bandejas muito pequenas contendo lagos, riachos, ilhas, montanhas, pontes, casas, jardim e árvores reais cuidadosamente cultivadas à escala adequada . Estes pequenos, jardins portáteis refletem o extremo da tradição pitoresca do que é a jardinagem oriental.
Finalmente os jardins Chaniwa são espaços para cerimónias de chá com caminhos para a casa de chá, lanterna de pedra e para a bacia de pedra onde o convidado se purifica antes da cerimónia tomar lugar. O jardim de chá japonês cresceu a partir de um ritual esotérico originado na China e relacionado com o acto de beber chá, este culto floresceu a partir do século 14 até o final do século 16, foi calculado para incutir a humildade, a contenção, a sensibilidade e outras virtudes. Os jardins através dos quais os convidados se aproximavam da casa de chá eram regidos por normas severas destinadas a criar uma atmosfera espiritual adequada.
Licenciada em Garden Design BA (Hons) pela Universidade de Greenwich. Viveu em Inglaterra durante 6 anos em Tonbridge, Kent e voltou para Portugal em 2007, em Setembro desse ano foi publicado o primeiro número da revista Tudo Sobre Jardins, revista Portuguesa dedicada ao garden design e paisagismo. Em 2008 começou o seu próprio atelier de Garden Design, CatarinaGDesigns. O seu objectivo principal é dar a conhecer o mundo do Garden Design, uma disciplina incrível e ideal para aqueles que querem trabalhar no mercado residencial, num contacto mais próximo com o cliente e para quem gosta, para além das plantas claro, muito de decoração e complementos exteriores.
Actualmente participa regularmente neste Portal com artigos na área paisagística e é responsável editorial da revista Tudo Sobre Jardins. Website CatarinaGDesigns e Garden Design Tools.
Também gostava que retratassem o tema bem aprofundado sobre bonsai, em todas as suas variantes